Deflagrou na noite de 18 de Julho de 64 d.C., no núcleo comercial da antiga cidade de Roma, á volta do Circo Máximo, um enorme e violento incêndio que lavrou durante cerca de sete dias. Nesse tempo governava o imperador Nero.
O incêndio devastou grande parte da cidade, principalmente os locais onde se encontravam localizados santuários, basílicas e templos que continham obras de arte, tesouros e documentos. As perdas humanas foram também elevadas.
Nero não se encontrava na cidade mas, após receber a noticia, regressou imediatamente a Roma e demonstrou uma enorme vontade em ajudar a população, ao abrir os seus jardins aos desalojados, mandando construir barracões para os abrigar, fazendo as cidades vizinhas fornecerem alimentos e equipamentos domésticos de socorro aos sinistrados.
No meio de toda esta grande confusão, muitos dizem ter visto escravos imperiais a atear o fogo e outros ainda afirmam ter visto o imperador, no alto da Torre de Mecenas, a assistir, vitorioso, ao incêndio.
A indignação popular cresceu e o povo manifestou-se nas ruas contra Nero. Devido a isto, o imperador apressou-se a encontrar “responsáveis”, acusando os cristãos e iniciando um ciclo de perseguições e martírios, a que foram sujeitos até ao século IV a.C. Nelas morreram centenas de fiéis da nova religião, atirados ás feras nos circos; foi ele também que ordenou a execução dos Apóstolos São Pedro e São Paulo.
Logo a seguir ao incêndio, o imperador Nero mandou reconstruir o império segundo regras bem definidas e regulamentadas, construindo novas ruas, amplas e com traçados ordenados e abriu novos fóruns.
Caio Júlio Octaviano César nasceu a 63 a.C. e a sua vida pública de começou em
Na altura era um jovem tímido, modesto, sem grande presença física, com uma saúde precária e sem gosto e jeito para a carreira militar. Pouco a pouco revela ter uma grande habilidade, competência e eficiência na política.
Com prudência e diplomacia, conseguiu os apoios que necessitava, afastou os seus inimigos e tornou-se de tal modo indispensável perante o Senado e o povo romano, que acabou por acumular poderes que fizeram dele a primeira figura do Estado romano. Em pouco tempo, Octávio, sempre dentro das ordens republicanas e respeitando o mos maiorum (leis antigas), conseguiu alcançar os maiores postos do cursus honorum (magistraturas):
- O poder tribunício, no inicio temporário e depois vitalício, que lhe concedeu todos os poderes civis;
- Conseguiu do Senado os direitos de nominatio, commendatio e adlectio, que lhe deram o direito de seleccionar e controlar os senadores e os altos funcionários da administração pública;
- Recebeu o título de augustus e pontifex maximus, que lhe concedeu o direito de controlar também o poder religioso e moral. Com as suas principais qualidades (virtude, clemência, justiça e piedade), tornou-se o primeiro imperador de Roma e geriu o seu Império “com mãos de ferro calçadas com luvas de veludo”.
Enquanto imperador de Roma, César Augusto, aumentou o império, consolidou as fronteiras, pacificou as províncias (imposição da pax romana), reformou o aparelho administrativo, reestruturou a sociedade em classes censitárias (que pagavam impostos), restabeleceu a religião tradicional, deu um grande desenvolvimento ás artes ao atrair á sua corte poetas, escritores e artistas, e iniciou uma época de paz e prosperidade.
Gabou-se ainda, quanto a Roma, de ter encontrado uma cidade de tijolo e a ter deixado de mármore.
Em 14 d.C., morre em Nola, deixando o poder a Tibério, visto que os que estavam na linha para o suceder morreram em circunstâncias estranhas.
O Senado homenageia-o declarando o seu período de vida como Saeculum Augustum (Século de Augusto) e dando início ao seu culto divino.
" O Império Romano é a civilização helenística, nas mãos brutais de um aparelho de Estado de origem italiana. Em Roma, a civilização, a cultura, a arte e a própria religião são quase completamente oriundos dos Gregos, ao longo de meio milénio de aculturação; desde a sua fundação, Roma, poderosa cidade etrusca, não era menos helenizada que as outras cidades da Etrúria. Se o alto aparelho de Estado, Imperador e Senado, permaneceram, no essencial, estranhos ao helenismo, em contrapartida, o segundo nível institucional, o da vida municipal (o Império Romano formava um corpo cujo células vivas eram milhares de cidades autónomas), era inteiramente grego. Desde o século II antes da nossa era, a vida de uma cidade do Ocidente latino era idêntica à de uma cidade da metade oriental do império. E, fundamentalmente, era esta vida municipal, completamente helenizada, que servia de quadro á vida privada [e quotidiana].
Roma é um povo que teve por cultura a de outro povo, a Grécia. A vontade de poder da classe dirigente romana era tão grande que se apoderava dos valores estrangeiros como se de um despojo de guerra se tratasse; nunca receou perder a sua identidade nacional, nem despojar-se da sua herança cultural; não foi xenófoba nem integrista. É por tais traços que os grandes povos se reconhecem. "
Paul Veyne em: Phillippe Ariès e Georges Duby (dir. de), História da Vida Privada, Do Império Romano ao Ano Mil, Vol. I, Ed. Afrontamento
O contexto político-social da Arte Romana
- Quando se pensa na Roma da Antiguidade Clássica, vem-nos á memória:
- Fruto de uma longa evolução, estas características atingiram o seu auge entre meados do séc. I a.C. e meados do séc. I d.C., a época de ouro da Civilização Romana. Esse período coincide em grande parte com o governo de Octávio César Augusto, cuja acção se manifestou a vários níveis:
- Roma, uma humilde aldeia, surgiu como cidade no séc. VIII a.C. com a união dos Latinos do Monte Palatino aos Sabinos do Monte Quirinal, formando um núcleo urbano forte. Desde aí e até ao séc. IV a.C. o seu crescimento acompanhou o crescimento político e económico do seu povo e a prodigiosa construção do gigantesco império, do qual Roma foi o centro. Dominando, pela sua posição central, o Mediterrâneo, Roma tornou-se o ponto de partida e de chegada das rotas terrestres e marítimas que uniam todas as partes do Império, possibilitando a circulação e intercâmbio de gentes, produtos e notícias veiculadas por políticos, soldados, comerciantes, colonos, escritores, artistas, entre outros. Por todas estas razões o Estado Romano teve sempre grande preocupação com a qualidade de vida da cidade e do seu espaço físico, rasgando vias e praças, construindo aquedutos para o abastecimento de água, estabelecendo regras construtivas para os edifícios civis e públicos e embelezando-a com monumentos e peças de estatuária que lhe dessem a imponência e o fausto necessários ao poder e ao domínio que a cidade exercia.
- Capital de tão vasto império, a Urbe ou cidade (de Roma), cresceu de uma forma cosmopolita, sendo um exemplo para inúmeras cidades do império, em todas as regiões ou provincias, a nível administrativo e civilizacional, pois os romanos fizeram das cidades, as sedes do seu governo em todas as províncias do império e da vida urbana o mais rápido processo de aculturação das populações; também a nível urbanístico pois o modelo urbano romano foi também adoptado nas cidades novas, em toda a parte do império e inspirou as reformas e melhoramentos urbanos feitos em muitas outras.
- As cidades do império organizavam-se em torno de dois eixos viários ortogonais - o cardo e o décumano. No cruzamento desses dois eixos rasgavam-se os fóruns, centros administrativos, políticos e religiosos. Junto à periferia das cidades, perto das portas, erguiam-se os complexos termais, os anfiteatros e teatros.
- Como assembleia política, o Senado foi a mais velha instituição do Estado Romano, tendo existido desde a monarquia até finais do Império.
Durante a República (510-27 a.C.), foi o órgão principal da vida política romana. Inicialmente possuía funções meramente consultivas, mas com o passar do tempo começou a dominar todos os assuntos da vida pública com carácter deliberativo e normativo. Cabia-lhe, como funções ordinárias, a política externa, as decisões de guerra e paz, a gestão das festas e solenidades religiosas, a administração das finanças e a tomada de medidas relativas à ordem pública; como funções extraordinárias, podia ainda declarar o estado de sítio, suspender os tribunais, intervir no governo das províncias e na gestão do exército, preparar as leis que os comícios deviam votar, entre outras. Tal amplitude de funções, em conjunto com o prestígio dos senadores fez das reuniões do Senado, na Cúria, o palco quotidiano da vida política do império durante a República, onde a arma principal de convencimento era a palavra, a Retórica, ou arte de bem-falar, importante factor no sucesso dos oradores e na condução das discussões e votações. Com o Império, o Senado entrou em decadência. Augusto reduziu o número de membros e retirou-lhe grande parte dos seus poderes: deixou de comandar o exército e de intervir na política externa.
- Durante o Império, a centralização política usou como principal instrumento de coesão do Estado a Lei Romana (conjunto de normas de Direito, superiormente definidas), que aplicada igualmente em todo o mundo romano, uniformizou os procedimentos da justiça e dos tribunais em todas as províncias, sobrepondo-se à diversidade dos direitos locais. A superioridade das leis romanas residia: na racionalidade e na lucidez dos princípios gerais que enunciavam; no pragmatismo e na experiência que colocam na análise das situações do quotidiano; na complexidade das situações que contemplavam e que eram vividas, a todos os níveis, nas várias regiões do império. A aplicação da justiça e a chefia dos tribunais reflectiram também a estrutura centralizadora dos Estado Imperial. Entregue, durante a República, aos magistrados pretores e aos pretores, a administração da justiça passou para a alçada dos imperadores e seus funcionários, no período do Império. O direito de apelação, reconhecido a todos os cidadãos que recorressem à justiça romana, só podia ser resolvido nos tribunais presididos pelo Senado ou pelo imperador, e a este cabia todos os casos de última instância. Desta forma, o imperador centralizou em si, os poderes legislativo e judicial.
- No século de Augusto, a paz e a prosperidade económica, trazidas pelas conquistas e pelo bom governo, proporcionaram aos Romanos o usufruto do ócio (tempo livre) e alteraram esses velhos costumes. Roma e toda a Itália foram invadidas por povos de todas as partes do império. De todas, as que mais contribuíram para a alteração dos hábitos e costumes foram os gregos. Os Romanos apreciavam-lhes o falar, os conhecimentos, a cultura e muitas outras coisas, e imitaram-nos: a língua grega, falada e escrita, passou a ser utilizada entre as elites cultas; os hábitos de luxo instalaram-se nos lares; o exotismo tomou conta do vestuário e dos penteados; os banquetes e os salões privados eram frequentes e a ida ás termas um hábito indispensável; o interesse pela filosofia, música e pelas artes dominaram os meios intelectuais. Na Roma imperial, como divertimento público, popularizaram-se os jogos que inicialmente foram divertimentos para os deuses oferecidos pelos humanos, e a sua realização obedecia a programas e rituais rigorosamente estipulados. Os mais antigos eram as corridas de cavalos, no Grande Circo Máximo, onde se seleccionava o melhor animal, que no fim era solenemente sacrificado e o sangue derramado para purificar e vivificar o solo. Outras das festividades públicas tradicionais eram as Grandes Procissões, que estão na origem das representações teatrais entre os romanos. A esta tradição associaram a influência do teatro grego, dando origem ao teatro romano, cópia do primeiro. O teatro tinha também representação em festividades privadas, nomeadamente em certas cerimónias fúnebres. Os combates entre feras e, mais tarde, entre homens e feras, também eram muito apreciados. A variedade de jogos criados dependeu muito da imaginação dos magistrados, cuja principal preocupação era agradar o poder e o povo.
A plebe urbana demonstrou apreciar estes espectáculos violentos e sanguinários, enquanto que as classes superiores preferiam o refúgio nas villas campestres, rodeados de conforto e bucolismo, onde os prazeres do campo se associavam aos da leitura, da música, da filosofia e das artes, que conheceram o seu primeiro mercado privado entre a elite próspera e sofisticada do império.
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