Sábado, 30 de Agosto de 2008

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Grega (Contexto político-social)

 

A Antiguidade Clássica é período da História que compreende a origem e o desenvolvimento das civilizações grega e romana. Vai do 1º Milénio a.C. a 476 d.C. (queda do Império Romano do Ocidente).

 

 

" A lição da Grécia (é uma) lição de modéstia e de lucidez, que coloca o Homem no seu lugar: capaz de compreender, mas também de ignorar; amante da vida, mas consciente de que ela é precária; capaz de usar a sua inteligência com prazer, sem esquecer que o futura pertence aos Deuses - deuses concebidos á sua imagem e graças aos quais a medida humana, na sua forma ideal, fornece a referência suprema ao universo. (...) Este Grego sabe que nada se consegue sem luta. Mas, consciente da sua fraqueza, não despreza o adversário. (...)

Para definir o pensamento grego emprega-se o termo humanismo (...); o Homem é um ponto de partida e uma medida necessária, e não um limite ou um fim. "

 

François Chamoux, A Civilização Grega, Edições 70

 

 

 

 

O contexto político-social da Arte Grega

 

- No séc. V a.C., a Atenas democrática de Péricles representa o culminar de um tempo histórico e artístico da Grécia ou Hélade, a primeira civilização da Antiguidade Clássica;

- Após as Guerras Persas (em 499 a.C., os Persas, procurando uma saída para o mar, atacaram a Grécia começando pelas cidades gregas da Ásia Menor. Assim começou uma longa guerra que só terminou em 449 a.C., com a derrota dos Persas, o que deu uma evidente supremacia aos atenienses), em 449 a.C., Atenas viveu um tempo de paz, de ócio e de liberdade, o que contribuiu para um grande florescimento que, conjugado com a intervenção de homens dotados, fizeram de AtenasEscola da Grécia. Entre esses homens sobressaiu Péricles, que deu o nome ao século pela sua acção e eloquência como homem do Estado e como mentor de um projecto artístico-cultural e cívico;

- Para os atenienses, a sua cidade era o espaço físico da pólis (agregação de homens livres), a comunidade dos cidadãos. Como forma de organização politica adoptaram o regime de cidade-estado, cujo governo evoluiu da monarquia á democracia. Deste modo, o espaço urbano de Atenas era composto por uma fortaleza no ponto mais alto, a acrópole (cidadela militar, onde estão instalados os locais para o culto religioso e cívico), por uma zona labiríntica na parte baixa, que inclui a ágora (praça pública - centro da vida da pólis, com espaços para reuniões políticas, manifestações desportivas e artísticas, comércio, assembleias, teatros, estádios, mercados, feiras), pelos campos envolventes e pelo porto do Pireu (porta aberta para o mar, importante para as trocas comerciais e desta forma, para o desenvolvimento do comércio);

- Com uma população de aproximadamente 350 000 habitantes (Cidadãos – Naturais de Atenas, filhos de pai e mãe atenienses. Apenas estes tinham direito a exercer função politica e administrativa; Metecos – Estrangeiros que tinham autorização para residir em Atenas e pela qual pagavam um imposto especial. Eram homens livres, geralmente comerciantes ou artesãos, mas sem direitos políticos – sendo o resto mulheres e escravos), Atenas viveu uma confortável situação económica e social: como o solo era pobre e montanhoso, os atenienses estabeleceram trocas comerciais com a Magna Grécia, a Grécia asiática e insular; desenvolveram os ofícios e as indústrias localizados em quarteirões e bairros; lotearam terras fora da Ática para a fixação de colonos e exploração de produtos agrícolas;

- A situação politica também era estável: estava consolidada a democracia devido ao contributo de legisladores como Sólon, o reformador (garantiu uma igual justiça para todos e repartiu os cargos públicos pelas diferentes classes sociais), Pisístrato, o tirano (assegurou a prosperidade económica e cultural de Atenas) e Clístenes, o fundador da democracia. Esta democracia era imperfeita pois só os cidadãos homens tinham direitos políticos e administrativos e o direito ao voto; porque não havia liberdade de expressão (o filósofo grego Sócrates foi condenado á morte pois pôs em causa a existência dos Deuses, sendo acusado de, através das suas ideias, corromper as ideias da juventude) e porque existia a lei do ostracismo (expulsar da cidade os cidadãos que não concordassem com o sistema);

- Em Atenas celebravam-se ao ar livre cerca de 60 festas religiosas e culturais por ano, pois a religião, que estava ao cargo do Estado, cumpria-se também deste modo. Multidões de atenienses e forasteiros participavam nestes programas como forma de consciencialização e demonstração da sua grandeza e dos seus valores, para o mundo grego e para os povos vizinhos; os gregos adoravam vários Deuses (politeísmo) que foram criados á imagem e semelhança dos Homens (antropomorfismo) e possuíam também sentimentos, defeitos e vícios. Distinguiam-se dos seres humanos pela imortalidade (que conseguiram por terem praticado feitos sobre-humanos) e pela superlativização das qualidades humanas – sempre belos, jovens e inteligentes. Para que a intervenção dos Deuses fosse benéfica era praticado o culto divino. Eram organizadas festas, sacrifícios, oferendas, procissões (por exemplo, as Panateneias de Atenas e as Grandes Dionísias) e jogos. Os gregos não aceitavam dogmas, não tinham “bíblias”, não seguiam magias e não tinham o conceito de pecado, apenas acreditavam em mistérios (doutrinas que só eram comunicadas aos iniciados). Cada pólis tinha os seus cultos privados e a sua organização ficava a cargo dos cidadãos;

- Como resultado de todo este clima próspero, a cultura e a arte floresceram: dado que a cidade tinha sido destruída pelos Persas durante as guerras, fizeram-se grandes trabalhos públicos de restauro e construção (muralha, templos, fontes e edifícios municipais) que ocupavam homens sem trabalho, uma mão-de-obra especializada, uma classe média numerosa e escravos.

Esta oportunidade e liberdade de criar e produzir, a abastança de fundos, vindos do tesouro da Liga de Delos (associação das cidades-estado da Ásia Menor, das ilhas e da Grécia continental dirigida por Atenas, com fins defensivos. Cada cidade pagava tributos que estavam reunidos num tesouro, na ilha de Delos. Mais tarde Péricles mudou o tesouro para Atenas, serviu-se dele para a reconstrução da sua cidade e impôs o seu poder militar e político ás outras cidades, de uma forma imperialista) e a genialidade singular de Péricles atraíram a Atenas muitos artistas talentosos, filósofos e intelectuais que contribuíram para um notável desenvolvimento. Reunindo influências de diversas tradições (povos da Mesopotâmia, do Egipto, de Creta e de Micenas), criaram uma síntese cultural original que deu aos atenienses a possibilidade de aprender, de pensar e de viver de um modo actuante e crítico.

- No entanto esta prosperidade foi efémera. As criticas á democracia e ao próprio governo de Péricles impuseram-se; a ambição de Esparta e da sua liga do Peloponeso (associação das cidades do Peloponeso, dirigida por Esparta, em oposição á Liga de Delos. Pretendiam destronar Atenas e ocupar a sua posição hegemónica) fizeram eclodir a Guerra do Peloponeso (envolveu as cidades das duas Ligas entre 431-404 a.C. e levou á destruição da cidade de Atenas e á sua sujeição á oligarquia de Esparta e ás suas regras); a peste apareceu na Ática. Matou cerca de um terço da população inclusive Péricles e arruinou o comércio, o trabalho nos campos e a indústria. Surgiu assim um tempo de dúvidas e convulsões, que deitaram por terra o tempo de confiança, liberdade e prosperidade que os atenienses tinham vivido até então.

- Em 338 a.C., Atenas é conquistada por Filipe II, rei da Macedónia, e depois pelos Romanos; apesar disso manteve-se um importante centro filosófico, científico e artístico.

 

A acrópole de Atenas

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 21:10
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