Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2009

A Arte Medieval - Arte Paleocristã e Bizantina; o Renascimento Carolíngio e Otoniano

 

"No decurso dos dez séculos (...) [sécs. V a XV - Idade Média], a Europa ganhou forma...  E foi então que nasceu e floresceu  uma arte propriamente europeia. Hoje admiramos o que dela resta. No entanto, não consideramos essas formas com o mesmo olhar que aqueles que primeiro as viram. Para nós, são obras de arte e delas esperamos apenas (...) um prazer estético. Para eles estes monumentos, estes objectos, estas imagens eram antes de mais nada funcionais. Serviam. (...) Desempenhavam três funções principais.

A maioria eram presentes oferecidos a Deus, para O louvar, dar-lhe graças, para obter em contrapartida a Sua indulgência e os Seus favores. (...) O essencial da criação artística desenvolvia-se então em torno do altar, do oratório, do túmulo. Esta função de sacrifício justificava que se dedicasse uma grande parte da riqueza produzida pelo trabalho dos homens a embelezar esses locais. (...)

Na sua maior parte, estes monumentos, estes objectos, estas imagens serviam também de mediadores, favorecendo a comunicação com o outro mundo (...). Estavam ali para tornar o ritual das liturgias numa correspondência mais estreita com as perfeições do Além (...), para guiar a meditação dos devotos, para conduzir-lhes o espírito per visibilia ad invisibilia, como diz São Paulo. Condescendentes, os homens de saber atribuíam-lhes, além disso, uma função pedagógica mais vulgar. (...)

Finalmente - e esta terceira função ligava-se com a primeira -, a obra de arte era uma afirmação de poder. Celebrava o poder de Deus, dos seus servidores, dos chefes de guerra, dos ricos. (...) Por isso, nas suas formas maiores, a criação artística, nessa época como em todos os tempos, desenvolvia-se nos lugares onde se concentravam o poder e os benefícios do poder."

 

Georges Duby, História Artística da Europa, A Idade Média, Tomo I, Quetzal Editores

 

 

 

 

 

Arte Paleocristã

 

- A Arte Paleocristã foi o conjunto de manifestações artísticas dos primeiros cristãos, que decorreram aproximadamente entre o ano 200 e o séc. VI da Era Cristã, correspondendo ao período de expansão do Cristianismo;

- A extraordinária dispersão geográfica desta arte forneceu-lhe uma grande diversidade regional, mas, no entanto, não impediu a subsistência de traços estruturais comuns:

  • a utilização dos modelos estilísticos da Roma clássica;
  • o uso de novas formas técnicas e estéticas oriundas das zonas periféricas do império, sobretudo das províncias do Oriente;
  • e a subordinação a um novo espírito e a uma nova temática: a do Cristianismo que impôs uma iconografia retirada das Sagradas Escrituras e um sentido doutrinal e pastoral às artes decorativas.

- Na arquitectura, a grande preocupação foi a procura de uma tipologia para o templo cristão, que adoptaria duas funções: ser a morada de Deus e recinto de culto e um local de encontro e reunião da comunidade dos fiéis, impondo assim novas exigências funcionais e de espaço;

- As primeiras igrejas da arte paleocristã obedeceram dois modelos principais: o de planta basilical, em cruz latina, com três ou cinco naves separadas por arcadas e/ou colunatas e cobertas por tectos de armação de madeira; e o de planta centrada, de influência helenística e oriental, com formas circulares, octogonais ou em cruz grega, e coberturas em cúpula e meias cúpulas. Em ambos os modelos sobressai a preocupação em destacar as linhas cruciformes (em forma de cruz), cuja simbologia se havia já começado a definir;

 

Aspecto da antiga Basílica de São Pedro do Vaticano, Roma, 324

 

Igreja de Santa Balbina

 

 

- Os baptistérios (edifícios sagrados destinados à celebração do baptismo), tal como os mausoléus (túmulos), adoptaram a planta centrada, com uma das portas orientada a leste e outra a poente, com enormes cúpulas sobre a sala central;

 


Mausoléu de Santa Constança, Roma, 354

 

 

- As primitivas igrejas cristãs eram exteriormente pobres e muito austeras e interiormente possuíam uma decoração pictórica, a fresco ou em mosaicos, de belas e vivas cores. O seu modelo mais característico foi o de planta basilical de três naves, que só se impôs como dominante a partir do séc. V, no Ocidente, influenciando toda a evolução artística seguinte, até ao Românico.

 

 

 

 

Arte Bizantina

 

- A cidade de Bizâncio (ex- Constantinopla), fundada por Constantino, tornou-se, nos primeiros séculos da Era Cristã, o centro de uma nova cultura, ao mesmo tempo que Roma sucumbia;

- Esta nova cultura, a Bizantina foi protagonista de um esplendor que teve origem no universo estilístico do Oriente. Foi aqui que se fundiram as correntes de pensamento do helenismo, do judaísmo e do cristianismo;

- A Arte Bizantina, herdeira de um passado rico, sintetizou as fontes estético-artísticas do Egipto;

- A arquitectura, tal como na arte Paleocristã, teve um lugar de destaque. Foi herdeira do arco, da abóbada e da cúpula, do plano centrado, de forma quadrada ou em cruz grega, com cúpula central e absides laterais; misturou assim estes elementos construtivos da arte romana com o clima místico das construções orientais;

- As construções, exteriormente, possuíam volumes irregulares que conferiam aos edifícios uma maior originalidade, e, interiormente, eram decoradas com mosaicos, pinturas a fresco, azulejos e colunas de inspiração grega e romana, embora um pouco modificadas;

- Foi no reinado de Justiniano, no séc. VI, que se definiu com grande clareza o estilo bizantino;

- Após um período conturbado (invasões, lutas internas), Bizâncio voltou a adquirir nova fase de magnificência, sob a dinastia macedónia. A arquitectura tornou-se mais complexa e abandonou a construção de cúpulas sobre pendentes, passando a edifica-las sobre um tambor cilíndrico. Devido aos problemas técnicos resultantes desta alteração, reduziram-se as suas dimensões, cobrindo-se as restantes áreas com abóbada de berço. A cúpula continuou mesmo assim a ser o sistema de cobertura preferido, sendo empregue em igrejas de planta em cruz grega.

 

O exterior da Igreja de Santa Sofia de Constantinopla ou Hagia Sophia (Sagrada Sabedoria), Turquia, séc. VI (note-se que os quatro minaretes que circundam a Igreja não pertencem à construção primitiva)

 

 Corte e planta da mesma igreja

 

 

 

 Arcos, cúpulas, abóbadas, mosaicos, colunas, pinturas a fresco nas paredes e tectos, azulejos - alguns elementos decorativos do interior da igreja

 

Igreja de São Vital de Ravena, Itália, séc. VI

 

Igreja dos Doze Apóstolos

 



Mausoléu de Gala Placídia, Ravena, Itália

 

 

 

 

Renascimento Carolíngio

 

- A cultura e a arte da Europa sofreram modificações com a queda do Império Romano do Ocidente e a entrada e fixação dos povos bárbaros (Visigodos, Ostrogodos, Francos, Saxões, entre outros);

- De entre todos estes povos foram os Francos os mais importantes para a Civilização europeia e os mais conhecidos, principalmente a partir do séc. VIII, quando Carlos Magno, primeiro como rei e depois como imperador, conseguiu unificar o seu poder e formou o Sacro Império Romano-Germânico. Para isso promoveu uma reforma litúrgica e o desenvolvimento da cultura e das artes - o Renascimento Carolíngio, que se prolongou até ao final do séc. X;

- Inspirada na tradição romana e nas influências bizantinas, a arte carolíngia foi humana, realista, figurativa e monumental;

- As construções possuíam exteriores maciços, pesados e severos e interiores ricamente decorados com pinturas murais, mosaicos e baixos-relevos;

- Algumas igrejas apresentavam uma construção acoplada que abria em tribuna para o interior (local onde o imperador assistia aos ofícios) e, exteriormente, funcionava como um pórtico, ladeado por duas torres;

- De todas as construções feitas neste período destacam-se: os palácios de Ingelheim e de Nimègue, a capela palatina de Aix-la-Chapelle (actual Aachen) que hoje se enconta bastante modificada exteriormente, a Igreja de Germigny-des-Près e o Mosteiro de São Gall, na Suiça, cujo projecto total é conhecido pela descrição num pergaminho.

 

 Os interiores ricamente decorados da Capela de Aix-la-Chapelle, Alemanha, séc. VIII

 

O pergaminho de São Gall - esta planta não corresponde totalmente à real construção

 

 

 

 

Renascimento Otoniano

 

- Em meados do séc. X, a Alemanha era governada por Otão I, que aproveitou a crise política que arrasava o Norte da Itália e de pequenos reinos vizinhos, para os conquistar. Assim nasceu o Império Germânico que, embora mais pequeno e frágil que o Sacro-Império de Carlos Magno, pretendia cumprir a mesma função;

- Tal como Carlos Magno, Otão procurou desenvolver a cultura e a arte - o Renascimento Otoniano, que se fez sentir entre 936 e 1024;

- Inspirou-se na tradição romana e na arte bizantina e carolíngia, mas criou um novo modelo, que será adoptado mais tarde pela arquitectura românica alemã: planta de dupla cabeceira e entradas laterais, com dois transeptos contrapostos, com tribuna e com torres nos cruzeiros e nos extremos dos transeptos;

- De todas as construções feitas neste período destacam-se principalmente: a Igreja de S. Miguel de Hildesheim, a de S. Ciríaco de Genrode e a Abadia de S. Jorge de Oberzell.

 

Igreja de S. Miguel de Hildesheim, Saxónia, c. 1010-1030

 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 19:53
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