Segunda-feira, 9 de Fevereiro de 2009

Os frescos de Pompeia

 

No dia 24 de Agosto de 79, as cidades de Pompeia, Herculano e Nápoles foram arrasadas pela erupção vulcânica do Vesúvio.

No século XVIII foram encontrados vestígios dessas mesmas três cidades romanas, em bastante bom estado de preservação devido ás cinzas vulcânicas, que as cobriram por completo.

 

Ruínas do fórum da cidade de Pompeia

 

Ruínas de Pompeia e o vulcão Vesúvio

 

 

Entre as entusiasmantes descobertas pictóricas encontram-se os fabulosos frescos que cobriam as paredes interiores da maior parte das habitações privadas e até de alguns edifícios públicos.

A partir destas pinturas foi possível distinguir quatro estilos na evolução cronológica das pinturas pompeianas:

  • Estilo de incrustação ou primeiro estilo (séc. II a.C.) – Estilo importado da Grécia e do Mediterrâneo Oriental. As paredes eram divididas em três sectores horizontais onde eram pintados, com cores vivas, falsos envasamentos de mármore, plintos imitando madeira e até elementos arquitectónicos fingidos;

 

 

  • Estilo arquitectónico ou segundo estilo (por volta de 80 a.C. até ao início da Era Cristã) – Possui influências helenísticas e está na sequência do estilo de incrustação, mantendo as três faixas horizontais de ordenação da parede. É caracterizado pela presença de elementos arquitectónicos pintados a partir do chão, que emolduram painéis com cenas mitológicas ou religiosas ou simulam janelas que se abrem sobre paisagens naturais. No nível superior, simulam-se frisos que deixam entrever o céu. Introduz ainda um efeito ilusório (aparente recuo ou desfundamento da parede por meio da perspectiva arquitectónica das cenas);



Pormenores do fresco do triclinium da Villa dos Mistérios, em Pompeia, séc. I a.C.

 

Frescos da Casa dos Vetti, Pompeia

 

 

 

  • Estilo ornamental ou terceiro estilo (pouco antes do início da Era Cristã) – Evolução do estilo anterior. Representação de elementos arquitectónicos, decorados com grinaldas e outros ornamentos vegetalistas e/ou naturalistas que se encontram pintados sobre fundos lisos e monocromáticos. Os painéis com cenas descritivas adoptam um menor tamanho e mostram cenas de inspiração oriental e africana. O efeito ilusório tende a suprimir a parede, através das cenas pintadas que parecem quadros pendurados no mesmo;

 

 

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Publicado Por Cíntia Pontes às 19:13
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Quarta-feira, 4 de Fevereiro de 2009

A Coluna de Trajano

 

A Coluna de Trajano

 

 

A Coluna de Trajano pertence á tipologia da arquitectura comemorativa romana e pensa-se que tenha sido inspirada nos obeliscos egípcios. É um monumento urbanístico, simultaneamente arquitectura e escultura, que teve a função de assinalar um momento histórico, conferindo-lhe um carácter documental e honorífico.

Foi construída em 112-114, em Roma, no Fórum de Trajano, sobre o túmulo desse imperador, para comemorar a vitória dos Romanos contra os Dácios.

 

A Coluna de Trajano inserida no Fórum

 

 

A sua construção foi concebida e dirigida pelo arquitecto Apolodoro de Damasco e demonstra o espírito histórico e triunfalista dos Romanos que, de um modo original, glorificaram o seu imperador.

A coluna possui cerca de 37 metros. O seu fuste é oco - no interior existe uma escada em espiral, feita em mármore branco, que ascende até ao topo - e assenta sobre um tambor ou pedestal, de forma cúbica, também oco e decorado com relevos de troféus militares. Este tinha uma porta em bronze, no cima da qual existia uma inscrição dedicatória. Fazendo a transição entre o plinto e a coluna, existe um toro coberto de coroas de louro.

É decorada com um relevo historiado que se desenrola á volta da coluna e que conta os inúmeros acontecimentos das duas campanhas de Dácia, encobrindo ainda as 43 janelas que iluminam a escadaria interior. No topo da coluna existe um capitel dórico monumental, que era encimado por uma águia de bronze, símbolo do Império. Mais tarde foi substituída por uma estátua em bronze de Trajano e actualmente possui uma estátua de S. Pedro, colocada em 1588.

Pormenor do capitel da coluna e da estátua de S. Pedro que a encima

 

 

A narrativa da coluna é feita através de diversas cenas em mármore que descrevem aspectos geográficos, logísticos e políticos da campanha. Mas o que sobressai de toda a representação é a magnanimidade do imperador, que acolhe os vencidos com generosidade. O imperador é mostrado como o grande protagonista que dirige e orienta os trabalhos, intervém nas batalhas e acode nas situações complicadas.

 

 

Pormenor do relevo historiado da Coluna de Trajano

 

 

As cenas são realistas e tratadas de modo natural, sucedendo-se umas às outras, sem separações ou linhas divisórias. Esta narrativa apresenta um verdadeiro “horror ao vazio”, devido à sua densidade e grande número de personagens.

O escultor trabalhou habilmente este relevo em friso com uma pequena profundidade no talhe, para que os efeitos de luz e sombra não prejudicassem a leitura das cenas quando vistas de baixo.

O relevo desta coluna é considerado uma das obras mais ambiciosas do mundo antigo, sendo muito maior e mais perfeccionista que o friso das Panateneias do Templo do Pártenon.


 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 09:30
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Segunda-feira, 2 de Fevereiro de 2009

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Romana (Continuação)

 

PINTURA

 

Fresco de uma casa de Herculano

 

 

- A pintura é uma das formas artísticas que melhor documenta o modo de vida e de ser dos Romanos;

- Sofreu grande influência dos Etruscos que decoravam as paredes dos templos, dos túmulos e, mais tarde, das suas casas , construídos em madeira ou terracota, com pinturas a fresco. Deles herdaram a enorme vivacidade narrativa, o grande sentido da realidade e a carga expressiva, linear e vigorosa; da arte egípcia, principalmente no retrato; e da arte grega;

 

Pinturas a fresco das paredes de uma casa em Pompeia

 

 

- Dividiu-se em duas tipologias diferentes: a pintura mural, feita a fresco, que revestia as paredes interiores dos edifícios; e a pintura móvel, realizada a encáustica (técnica pictórica que se aplica sobre suportes de madeira, marfim, pedra ou metal, em que o aglutinante dos pigmentos de cor é a cera quente, diluída), geralmente sobre painéis de madeira;

- As principais características da pintura romana foram o realismo, o naturalismo, a atenção ao pormenor e ao detalhe, a noção de perspectiva conseguida; os belíssimos contrastes de claro-escuro e as composições plenas de vivacidade, delicadeza e harmonia;

- Abordou uma temática variadíssima:

  • Pintura triunfal - incidia sobre cenas históricas como batalhas e episódios políticos e militares; possuia funções políticas, documentais e comemorativas; semelhante ao relevo, recorre à narrativa contínua, onde a figura principal é repetida e as secundárias são colocadas lado a lado; a representação é exacta, quer em pormenores, quer nas inscrições que identificam os protagonistas;

"Bodas Aldobrandinas", as núpcias de Alexandre Magno com a princesa Roxana, fresco encontrado numa casa romana do monte Esquilino

 

  • Pintura mitológica - incidia sobre os mitos e mistérios da vida dos deuses e na representação das suas figuras; possuíam composições muito fantasistas e imaginativas e ricas em personagens e colorido;

Perseu libertando Andrómeda, fresco de Pompeia

 

Ménade

 

Pintura a fresco de carácter mitológico, encontrado na Basílica de Herculano

 

 

  • Pintura de paisagem - inspirava-se directamente na Natureza e revestia-se de um grande sentido poético e bucólico; a representação era tanto sonhadora e fantasista como podia ser fiel ao observado, não perdendo, contudo, a sua poesia;

 

Pinturas a fresco da Villa Lívia, em Primaporta, 20 a.C.

 

Pintura a fresco de uma paisagem idealizada

 

  • Naturezas-mortas e cenas de género (da vida quotidiana) - pequenas obras-primas plenas de realismo nas formas, cores e brilhos e de grande atenção ao detalhe;

Natureza-morta com frutas e jarra

 

Natureza-morta com pássaro

 

Natureza-morta com pêssegos e jarra

 

 

Cena de género

 

  • Retratos - muito abundantes nas casas dos romanos e feitos a fresco nas paredes ou pintadas a encáustica sobre painéis de madeira ou metal; eram admiráveis pelo verismo quase fotográfico e pela sugestão psicológica que provocam no espectador.

Retratos romanos

 

"A Poetisa"

 

"O Padeiro Páquio Próculo e sua mulher"

 

 

- A pintura foi utilizada, desde a República, em edifícios públicos (basílicas, termas), religiosos (templos, túmulos), oficiais (mansões, palácios) e privados (lares de abastados funcionários, mercadores e comerciantes de Pompeia), revestindo as paredes de várias divisões, tornando os espaços muito mais aprazíveis e acolhedores.

 

 Pinturas a fresco das paredes das termas de Pompeia

 

 


MOSAICO

 

- Intimamente ligado á pintura, o mosaico vai buscar a essa arte o estilo e o colorido;

- Era feito com pequenas tesselas de materiais coloridos como mármores, pedras várias e vidro, aplicadas sobre a argamassa fresca que cobria variadíssimos locais de suporte - no início apenas o chão e depois também as paredes exteriores e interiores e os tectos de pequenas cúpulas;

- Os seus temas foram os mesmos da pintura romana e desenvolveram-se em composições figurativas: episódios mitológicos, cenas de caça, jogos, cenas de género, naturezas-mortas e, por vezes, passagens humorísticas, com particular evidência para cenas em trompe-l'oeil (ilusão de perspectiva);

- A mais típica decoração em mosaico data dos sécs. II e II a.C. e é formada por uma espécie de "tapetes" que cobrem parcial ou totalmente o chão de algumas divisões, com composições complexas de motivos geométricos que serviam de moldura a pequenos motivos figurativos como pessoas, animais e deuses;

- Atingiu o seu apogeu no séc. IV, sendo posteriormente continuado nas artes paleocristã e bizantina.

 

Mosaicos romanos da cidade de Pompeia

 

"Cave Canem", mosaico-tapete de uma casa de Pompeia

 

 Mosaico de carácter mitológico representando a Deusa Diana, encontrado na antiga cidade romana de Volubilis, Marrocos

 

Mosaicos encontrados na Casa de Menandro, em Pompeia

 

Mosaico da "Batalha de Isso" e pormenor da cabeça de Alexandre Magno, respectivamente

 

 Mosaicos decorativos da Casa dos Repuxos em Conímbriga, Portugal

 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 16:38
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Domingo, 1 de Fevereiro de 2009

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Romana (Continuação)

 

ESCULTURA

 

- A escultura romana revela características realistas, centradas na personalidade do indivíduo, com influências da arte etrusca e da arte grega do período clássico e, principalmente, helenístico, porque os Romanos preferiram o realismo emocional da representação à perfeição idealizada e quase "sagrada", pois aquele estava mais de acordo com o seu espírito prático e pragmático;

- Mais realista que idealista, a estatuária romana teve o seu maior êxito nos retratos, normalmente em forma de busto. Reproduziam exactamente o modelo, acentuando até os “defeitos”, as “disformidades” e as características fisionómicas dos olhos, das sobrancelhas, da boca, barba e cabelo, bem como marcas do tempo e do sofrimento humanos. Deste modo a escultura romana conseguiu atingir o seu propósito: eternizar a memória dos homens através de imagens reais que evidenciavam o carácter, a honra, a glória e a psicologia do retratado, com um carácter quase fotográfico;

- No séc. I a.C., durante o governo de Octávio César Augusto, o retrato começa a sofrer mudanças e a mostrar nítidas influências do ideal grego, sobretudo no retrato oficial: visto que os imperadores se tornavam deuses após a morte, os seus retratos e estátuas apresentavam-no de um modo mais classizante, mais idealizado e mais divino, mas por outro lado também mais grave, para ser admirado, respeitado e honrado; as figuras adquiriram uma pose mais triunfal, majestosa e bela, embora, algumas partes do corpo, principalmente a cabeça, continuassem plenas de verismo, mostrando as feições naturais do representado. Feitos em materiais como a pedra e o bronze e cunhados em moedas, os retratos foram o espelho do poder imperial e um elemento de unificação do território, pois os retratos do imperador chegavam a todas as partes do império;
- A época do Alto Império ficou marcada pela grande produção escultórica e pelo facto de, pela primeira vez, se poder falar em consumo privado de Arte e no gosto pela obra de arte em si mesma, desenvolvendo-se a paixão pelo coleccionismo, bastante "banal" nos tempos de hoje;

- A decadência do império (sécs. IV e V d.C.) correspondeu a uma fase de simplificação na escultura: as figuras começaram a apresentar uma grande influência da estética oriental, com o seu frontalismo e hieratismo e feições mais abstractas e simplificadas, principalmente no retrato; houve também uma perda progressiva da noção de perspectiva e profundidade. O Cristianismo também marcou esta fase com o seu esquematismo e simbolismo da figuração, pois os seus conceitos de imortal e espiritual, converteram a representação humana em símbolos; deste modo o retrato oficial perdeu a sua carga de individualidade;

- Dividiu-se em três tipologias:

  • As estátuas e as estátuas equestres, que possuíam funções públicas - documentais, celebradoras, comemorativas e, por vezes, decorativas - e eram plenas de verismo e um certo idealismo. Em qualquer uma delas sobressai principalmente o retrato propriamente dito, que se pauta por um grande realismo, não descurando a fisionomia do rosto e enfatizando a descrição da personalidade do representado sobretudo nos olhos e na expressão do olhar. Os romanos fizeram também cópias de muitas estátuas gregas, pelo grande encanto e admiração que tinham por elas;

Estátua-retrato de Augusto de Prima Porta, séc. I a.C e a estátua do patricío Barberini, 30 a.C, respectivamente

 


Pormenor da estátua-retrato de Augusto como Pontífice Máximo

 

 

 

Busto de Marco Aurélio, de Brutus Capitolino e de Júlio César, respectivamente

 

 Estátua de Dionísio, cópia romana de uma obra grega

 

Estátua equestre em bronze de Marco Aurélio, séc. II d.C.

 

 

Fragmentos da estátua colossal de Constantino

 

  • Os relevos, que tinham funções ornamentais, comemorativas e narrativas ou históricas e recorreram a algumas técnicas usadas na pintura: conseguiram obter profundidade e efeitos de perspectiva através da gradação dos planos, em conjunto com diferentes tipos de relevo (alto, médio e baixo, até ao esmagamento) e utilizaram a figura em escorço, principalmente nas cenas militares, de modo a transmitirem a noção de esforço e sofrimento. A narração decorria em cenas contínuas onde a figura principal se encontra repetida, as figuras secundárias dispostas lado a lado e as restantes colocadas em planos mais recuados. As figuras eram produzidas de modo fidedigno e demonstravam o grande gosto dos romanos pela representação minuciosa e verista. 

Pormenor de um dos relevos do Arco de Tito

 

 

Relevos do Ara Pacis, altar da paz

 

Detalhe do relevo romano "Marco Aurélio e os bárbaros", séc. II d.C.

 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 22:31
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Segunda-feira, 26 de Janeiro de 2009

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Romana

 

ARQUITECTURA


- De todas as formas da arte romana, é a arquitectura que melhor testemunha o génio inventivo e prático de Roma e que melhor documenta a sua evolução histórico-social;

- A arte romana sofreu duas fortes influências: da arte ítalo-etrusca, popular, voltada para a expressão da realidade vivida e reveladora de um povo alegre e amante da vida, e da arte greco-helenística, orientada para a expressão de um ideal de beleza; dos etruscos herdaram vários conhecimentos e técnicas tais como: a utilização do arco e da abóbada; a construção de cidades muralhadas com traçado rectilíneo das ruas; a realização de pontes, túneis, esgotos e estradas; a edificação de templos com pódio, pórtico com colunas de madeira, telhados de duas águas e beiral, cella, proporções quase quadradas e paredes de tijolo cru; e a produção de túmulos de várias formas, cujas características se assemelhavam ás casas dos vivos. Aos gregos foram buscar as concepções clássicas dos estilos jónico, dórico e coríntio, aos quais associaram novos estilos, como o toscano e o compósito, que aplicaram na decoração arquitectónica; imitaram as plantas dos templos rectangulares e circulares na construção de basílicas e outros edifícios como os teatros e a domus, cuja concepção parte do peristilo grego, transformando-o um núcleo residencial; o urbanismo romano também adquiriu influências gregas, pois a partir da acrópole e da ágora gregas, os Romanos passaram ao Capitólio e ao fórum de Roma.

 

Muralha Serviana, Roma, séc. IV a.C.

 

Muralha de Adriano, Grã-Bretanha

 

 

- Pragmática, funcional, colossal e magnificente, a arquitectura romana preocupou-se essencialmente com a resolução dos aspectos práticos e técnicos da arte de construir, respondendo com soluções criativas e inovadoras ás crescentes necessidades demográficas, económicas, políticas e culturais da cidade e do império;

- Nas suas construções os Romanos usaram materiais tradicionais como a pedra, o tijolo, a mármore e a madeira, e outros, mais económicos e fáceis de trabalhar, criados ou recriados por eles de forma inovadora - falamos dos diferentes tipos de opus (termo usado pelos romanos para designar o material ou o tipo de organização dada ao material empregue numa construção. Distinguem-se vários tipos: opus incertum, que usa pedras pequenas e irregulares unidas por argamassa; opus recticulatum, semelhante ao anterior mas com revestimento exterior regular, feito com pequenas pirâmides de calcário cunhadas na parede com a base para fora; opus quadratum, que usa silhares de pedra aparelhada, sobrepostos sem argamassa, cuja coesão é garantida pala colocação de grampos metálicos; opus testaceum, constituído por ladrilhos cozidos dispostos de modo a fazer desenhos quadrados ou triangulares; e opus caementicium), dos quais o mais importante foi o opus caementicium, uma espécie de argamassa de cal e areia, a que se adicionavam pequenos pedaços calcário, pozolana (material de origem vulcânica), cascalho e restos de materiais cerâmicos, que criava uma pasta moldável enquanto húmida, semelhante ao actual cimento ou betão que, depois de seca, se igualava à pedra na solidez e na consistência. A sua utilização desde o séc. IV a.C, facilitou e tornou mais rápida e económica a construção de estruturas complicadas como as coberturas abobadadas ou cupuladas e ainda as paredes arredondadas e em abside; o emprego deste material obrigou ao uso de vários paramentos (revestimento exterior) que disfarçassem o aspecto final pouco decorativo das estruturas. Deste modo, os Romanos inventaram diferentes almofadados em pedra e tijolo e aplicaram revestimentos exteriores com relevos em estuque, placas de mármore policromo ou ladrilhos cozidos. Nos interiores, o revestimento era feito com pedras nobres, mármores, mosaicos e estuques pintados;

- Criaram novos sistemas construtivos, que tiveram como base o arco e as construções que dele derivam: os diferentes tipos de abóbadas, as cúpulas e as arcadas (conjunto de colunas unidas superiormente por arcos).  Na verdade estas estruturas não foram inventadas pelos Romanos pois já haviam sido usadas pelos Etruscos e os próprios gregos conheciam o arco, embora nunca o tenham usado. Contudo, nenhum destes povos soube aplicar estes sistemas com tanta perícia técnica e com tanta eficácia e inteligência arquitectónica. A sua utilização, aliada aos novos materiais, permitiu aos Romanos criar variadas tipologias arquitectónicas, diversificar as plantas, projectar compartimentos mais amplos e articular melhor os espaços interiores;

- Desenvolveram as técnicas e os instrumentos de engenharia, assumindo-a como o suporte da arquitectura e atribuindo-lhe, pela primeira vez, uma base científica; realizaram neste campo grandes progressos: aperfeiçoamento dos conhecimentos de orografia e topografia; uso de técnicas de terraplenagem (acto de nivelar os terrenos de modo a prepará-los para a execução da obra); desenvolvimento de processos de embasamento e de suporte; invenção de cofragens (dispositivo amovível de madeira destinado a conter as massas de betão fresco nas formas projectadas; espécie de molde) e cimbres (armação de madeira que suporta e/ou molda os arcos ou abóbadas), que serviram para montar e moldar as estruturas construtivas, economizando assim a mão-de-obra e o tempo da construção; utilização dos grampos de metal para fortalecer as juntas entre os blocos de pedra ou nas zonas de maior pressão dos edifícios.

- A decoração utilizada pelos Romanos pautou-se pelo barroquismo (acto de complicar as formas e os elementos decorativos pela profusão e exagero dos mesmos), que preferiram o exagero ornamental ao equilibrado sentido estético e simples dos Gregos; utilizaram os elementos gregos tais como colunas, entablamentos e frontões, como meras "peças"decorativas, sem qualquer função estrutural, inovando-as ao alterarem as suas formas e proporções; criaram ainda duas novas ordens: a toscana (capitel simples, semelhante ao estilo dórico) e a compósita (junção da ordem jónica e da coríntia; o capitel é decorado com volutas e folhas de acanto).

 

 

 

» Arquitectura religiosa

 

- Desempenhou funções religiosas, políticas e sociais e encontra-se largamente representada entre as construções romanas;

- Os edifícios religiosos assinalavam, pelo seu valor sagrado e simbólico, os lugares mais importantes das cidades. Entre eles destacavam-se os simples altares (uma espécie de pequenos templos erguidos sobre um pódio e fechados a toda a volta por um muro, decorado com relevos, e só interrompido pela escadaria frontal; o interior é descoberto e composto por um altar, elevado sobre um pedestal de mármore; possuíam um carácter comemorativo), os santuários e os templos, destinados ao culto dos imperadores (divinzados após a morte) e aos Deuses;

 

Altar da Paz (Ara Pacis), Ano 13 a.C., Roma - vista frontal, lateral e traseira e alguns dos seus frisos, respectivamente

 

 

- Os templos romanos do período republicano apresentavam algumas características comuns a todos eles: erguiam-se sobre um estrado em pedra maciça, denominado pódio; possuíam um carácter frontal, com a fachada assinalada pelo pórtico e pela escadaria de acesso ao templo; tinham geralmente uma planta rectangular (tendo existido também, templos de planta circular), apenas uma cella e na maioria das vezes não tinham peristilo, pois as colunas laterais se encontravam embebidas ou adossadas ás paredes exteriores da cella; as colunas e o entablamento eram uma imitação grega, seguindo uma das ordens clássicas, mas possuíam apenas uma função decorativa;

- Mais grandiosos eram os santuários, constituídos por vastos recintos abertos para a paisagem, construídos como amplos anfiteatros rodeados de arcadas, atrás das quais havia templos, alojamentos para sacerdotes e crentes, lojas e outras dependências.

 

Templo de Vesta, Roma, séc. I a.C

 

Templo coríntio, Maison Carré, Ano 16 a.C., Roma

 

Templo- Santuário de Júpiter, Líbano, séc. I d.C.

 

 Templo de Diana, Évora

 

 

Panteão de Roma, mandado construir pelo imperador Adriano, para honrar os Deuses da Terra e do Céu, visando a unidade e a fusão de todas as doutrinas religiosas e diversos Deuses que cada povo conquistado por Roma tinha: vista frontal (fig. 1), vista traseira (fig.2), vista lateral das colunas que rodeam o portico (fig.3), a entrada (fig.4 e 5), os interiores (figs. 6, 7, 8, 9, 10 e 11) e a sua planta (fig. 12)

 

 

 

 

» Obras públicas

 

- As construções públicas foram o tipo de arquitectura em que os Romanos melhor expressaram o seu engenho técnico e originalidade, mas também as que melhor traduzem o desejo de poder e de grandeza deste povo;

- Abundantes desde o período da República, estas obras foram essenciais durante o Império, devido à enorme expansão territorial e ao crescente aumento demográfico. Foram poucos os imperadores que não deixaram o seu nome ligado a um grande melhoramento público, útil para o povo ou para o embelezamento da cidade;

- Durante o período da República salienta-se a construção de obras com carácter prático e utilitário como as estradas, as pontes e sobretudo os aquedutos, essenciais ao abastecimento de água às cidades e às termas;

 

 

Estrada romana em Pompeia

 

Estrada romana em Argoncilhe, Santa Maria da Feira

 

 Aqueduto e Ponte do gard, França, final do séc. I a.C.

 

 Ponte de Segura, Castelo Branco

 


Aqueduto romano em Espanha

 

Ponte romana em Chaves

 

 Ponte de Alcantara, Espanha

 

 Aqueduto romano na Tunísia

 

 

- O período imperial, por sua vez, deu ênfase a construções mais grandiosas e imponentes destinadas à vida pública, cada vez mais complexa, ou ao lazer e divertimento da população (embora muitas destas construções já existissem durante a República). Destas salientam-se:

  • As basílicas, construidas com coberturas em abóbadas de arestas e com cúpulas e semicúpulas sobre as absides laterais, que permitiam criar compartimentos interiores mais amplos e iluminados, que abrigassem um grande número de pessoas. Tinham como principais funções albergar tribunais, cúrias e outras repartições públicas, como termas, mercados, bolsas de mercadores e palácios imperiais;

Ruínas da Basílica de Maxêncio ou Constantino, Roma, séc. IV

 

Ruínas da Basílica Emília, período republicano

 

 

  • Os anfiteatros, construções mais populares da arquitectura romana do lazer, exerceram um importante papel sócio-recreativo. Possuíam planta circular ou elíptica, sem cobertura e tinham vários andares (geralmente três ou quatro), sustentando-se a si proprios, graças aos complexos sistemas de abóbadas radiais e concêntricas, que suportavam as galerias sob as bancadas e a própria arena; a parede exterior, circular, ostentava três níveis de arcos, ladeados por colunas adossadas com ordens diferentes em cada andar, separados por entablamentos e encimados por um ático sem arcadas, mas com pilastras adossadas;

 Anfiteatro Flávio, mais conhecido como Coliseu de Roma, séc. I

 

 

  • Os teatros, semelhantes aos anfiteatros na forma e na decoração exterior, mas de menor porte; apresentavam influências gregas na construção; não precisavam de locais apropriados para se erguerem porque graças aos sistemas construtivos romanos, sustentavam-se a si próprias; embora fossem ao ar livre, eram fechados em torno de si mesmos, porque as paredes da cávea (estrutura onde, segundo a escala social, se sentavam os espectadores), em anfiteatro, uniam-se à cena. A orquestra era semicircular e a cena, mais elaborada, possuia vários andares colunados até à altura da última bancada; é ainda de salientar que os primeiros teatros romanos, construidos até finais da república, tinham um carácter bastante efémero: eram feitos em madeira e demolidos logo após o acontecimento para o qual tinham sido construidos;

 

Teatro de Marcelo, Roma, séc. I a.C.

 

  • As termas, que mais do que simples balneários públicos, tornaram-se importantes locais de encontro e convívio social e símbolos do poder político. Continham piscinas de água quente e fria, saunas, ginásios, estádios, hipódromos, salas de reunião, bibliotecas, teatros, lojas e amplos espaços verdes, ao ar livre. Devido a todas estas funções, eram construções de escala monumental e pautavam-se pelo apurado sentido de ordem e simetria das suas plantas, pela estruturação dinâmica e funcional dos seus interiores, pela conjugação harmoniosa das várias volumetrias, pelas arrojadas coberturas abobadadas ou cupuladas e ainda pela belissima articulação entre interiores e exteriores. Ostentavam uma rica decoração, com revestimentos a mármore policromo, belas composições de mosaicos, pinturas em estuque e muita estatuária artística.


Ruínas das termas de Carcala em Roma e um dos seus mosaicos decorativos

 

 Mármores policromos decorativos das termas de Saragoça, Espanha

 

Decoração das termas romanas com pinturas em estuque

 

Termas romanas em Espanha

 

 

 

» Arquitectura privada

 

- Menos imponente que as demais obras romanas, mas igualmente genial, foi a arquitectura privada bastante usada pelos Romanos, que possui duas tipologias distintas:

  • A domus, o lar tradicional dos Romanos, a casa unifamiliar e privada; eram feitas em tijolo e ladrilho cozido, apresentando um aspecto exterior modesto; geralmente possuia apenas um piso ou dois e tinha um telhado ligeiramente inclinado para o interior, coberto com telhas de cerâmica; não possuia aberturas para o exterior, excepto a porta principal e , por vezes, uma outra nas traseiras; as dependências internas organizavam-se em torno de um ou dois pátios interiores (o atrium e o peristilo), pelos quais se fazia a iluminação e ventilação da casa e a circulação das pessoas; a decoração interior baseava-se nos pavimentos de mármore policromo ou de mosaicos, e nos belissimos estuques pintados das paredes das divisões nobres (triclinium, sala de jantar e tablinum, escritório ou sala de estar). As famílias mais abastadas possuíam variantes maiores e muito mais luxuosas do modelo acabado de descrever, rodeadas de grandes e belos jardins, as villae ou  villas, moradias construídas, muitas vezes, fora da cidade, num arredor rural aprazível e surpreedente; os imperadores e suas famílias mandaram construir villas grandiosas (os palácios imperiais), verdadeiras cortes que albergavam uma numerosa criadagem, as milícias militares e as comitivas políticas;

 

 

1. Vestíbulo; 2. Átrio; 3. Impluvium (Tanque para recolha das águas da chuva); 4. Alas laterais do átrio; 5. Tablinum; 6. Triclinium; 7. Cozinha; 8. Quartos; 9. Lojas;                 10. Peristilo

 

Vista exterior de uma Domus Romana e a sua respectiva planta

 

Átrio de uma domus romana

 

Ruínas da Domus Augusteana 

 

Ruínas da Domus Aurea (palácio imperial do imperador Nero) e uma das suas pinturas a fresco decorativas

 

Ruínas do peristilo da Casa dos Vetti, Pompeia

 

Mosaicos e pinturas a fresco da Villa del Casale

 

 

 

Villa Adriana, "obra" do imperador filósofo e grande viajante, Adriano, que fez desta villa uma espécie de museu, repleto de réplicas das construções e dos locais qua mais o haviam impressionado, feitas à escala humana, mas colocados no terreno de modo imaginativo e sem qualquer submissão á axialidade: o palácio imperial (fig. 1), a hospitalia (alojamento dos soldados da guarda pretoriana fig. 2 e 3), as termas e um dos seus mosaicos decorativos (figs. 4 e 5), o Canopo (pequeno lago que simboliza um antigo canal que ligava as duas cidades egípcias de Alexandria e de Canopo - figs. 6 e 7), o teatro Marítimo (fig. 8), o ginásio (fig. 9)

 

 

  • As insulae, autênticos prédios urbanos para rendimento, que alojavam as famílias mais pobres; tinham em média três ou quarto andares, mas muitas delas atingiram os oito pisos. O rés-do-chão era geralmente recuado e utilizado para lojas, abertas para a rua. Assemelhavam-se a autênticas colmeias humanas e eram construídas com os materiais mais económicos como o tijolo, a madeira e a taipa. Levantaram grandes e graves problemas urbanísticos tais como o abastecimento de água, os esgotos, o mau isolamento acústico e térmico, o exagerado número de andares, a higiene e as normas de segurança, devido aos frequentes incêndios e às escadas de acesso, íngremes e apertadas, que dificultavam as evacuações. Apesar de tudo isto, estas construções apresentam um grande interesse, nomeadamente em relação: à técnica usada para a construção em altura; à preocupação funcional da planta, com os apartamentos com acesso, em galeria, ao pátio central, aberto desde o rés-do-chão; ao tratamento das fachadas não revestidas, onde se rasgavam fileiras simétricas de janelas, numa antecipação de estilos vindouros.

 

 

 

» Arquitectura comemorativa

 

- O espírito histórico e triunfalista dos Romanos levou-os a produzirem obras com fins comemorativos e que assinalassem, pela sua presença evocativa, as conquistas militares e políticas dos grandes oficiais e dos imperadores. Dentro desta arquitectura salientam-se duas tipologias: as colunas honoríficas e os arcos de triunfo, que eram ambos ricamente decorados com baixos e altos-relevos e estátuas ou esculturas alegóricas e/ou honoríficas. A sua colocação fazia-se, geralmente, a meio das vias importantes ou nas entradas e saídas dos fóruns, embora, por vezes, estivessem adossadas ás portas das muralhas das cidades, a pórticos e aquedutos.

 

Arco de triunfo de Septímio Severo

 

Arco de triunfo de Tito

 

 Arco de triunfo de Constantino

 

Coluna de Trajano

 

  

Publicado Por Cíntia Pontes às 19:32
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Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Romana (Contexto político-social)

 

 

" O Império Romano é a civilização helenística, nas mãos  brutais de um aparelho de Estado de origem italiana. Em Roma, a civilização, a cultura, a arte e a própria religião são quase completamente oriundos dos Gregos, ao longo de meio milénio de aculturação; desde a sua fundação, Roma, poderosa cidade etrusca, não era menos helenizada que as outras cidades da Etrúria. Se o alto aparelho de Estado, Imperador e Senado, permaneceram, no essencial, estranhos ao helenismo, em contrapartida, o segundo nível institucional, o da vida municipal (o Império Romano formava um corpo cujo células vivas eram milhares de cidades autónomas), era inteiramente grego. Desde o século II antes da nossa era, a vida de uma cidade do Ocidente latino era idêntica à de uma cidade da metade oriental do império. E, fundamentalmente, era esta vida municipal, completamente helenizada, que servia de quadro á vida privada [e quotidiana].

Roma é um povo que teve por cultura a de outro povo, a Grécia. A vontade de poder da classe dirigente romana era tão grande que se apoderava dos valores estrangeiros como se de um despojo de guerra se tratasse; nunca receou perder a sua identidade nacional, nem despojar-se da sua herança cultural; não foi xenófoba nem integrista. É por tais traços que os grandes povos se reconhecem. "

 

Paul Veyne em: Phillippe Ariès e Georges Duby (dir. de), História da Vida Privada, Do Império Romano ao Ano Mil, Vol. I, Ed. Afrontamento

 

 

 

 

O contexto político-social da Arte Romana

 

- Quando se pensa na Roma da Antiguidade Clássica, vem-nos á memória:

  • a vastidão do seu Império;
  • o poder autocrático, centralizado e divino dos seus imperadores;
  • a modernização do seu sistema jurídico, que foi durante séculos a principal fonte de organização administrativa e judicial da Igreja e dos estados europeus;
  • a meticulosa e disciplinada organização das suas legiões que conquistaram o mundo;
  • o ecletismo da sua cultura, da matriz helenística, associada a uma síntese original de influências múltiplas;
  • o mundanismo das suas elites sociais, em contraste com o esclavagismo (estrato social da Antiga Roma a que pertenciam os homens livres, não-nobres e com menores posses económicas) e as duras condições de vida da plebe (estrato social mais pobre, os escravos);
  • a superioridade da sua civilização material que rasgou estradas, construiu cidades, levantou pontes e aquedutos, desbravou florestas, arroteou campos e fundou indústrias, escolarizou e pacificou, numa gigantesca tarefa civilizacional a que modestamente demos o nome de romanização (acto de aculturação exercido por Roma sobre os diferentes povos do seu império).

- Fruto de uma longa evolução, estas características atingiram o seu auge entre meados do séc. I a.C. e meados do séc. I d.C., a época de ouro da Civilização Romana. Esse período coincide em grande parte com o governo de Octávio César Augusto, cuja acção se manifestou a vários níveis:

  • no plano militar - restabeleceu a ordem e a disciplina após a anarquia e guerra civil dos últimos tempos da República; prossegui com as conquistas e pacificou as províncias, estendendo sobre elas a pax romana;
  • no plano político - reformou o aparelho administrativo central e provincial, reforçando os poderes do imperador ao criar novos órgãos de apoio (Conselho Imperial, Guarda Pretoriana e novo corpo de funcionários dele dependente) e reduzindo os poderes do Senado, das magistraturas e dos comícios;
  • no plano social - apaziguou as lutas sociais, reordenando a população com base na igualdade (teórica) perante a lei, para os cidadãos livres, e fazendo recair sobre o montante do imposto pago (censo que Augusto tornou obrigatório) a possibilidade de se ser eleito para os cargos públicos e políticos, como o Senado e magistraturas. Com estas medidas, garantiu a coesão do corpo social, hierarquizando-o;
  • no plano cultural - usou a prosperidade económica para proteger poetas, escritores, historiadores, intelectuais e artistas, atraindo-os á sua corte e subsidiando as suas obras (início do mecenatismo, actividade cujo nome deriva de um dos mais fiéis conselheiros de Augusto - Mecenas); patrocinou numerosas obras públicas como estradas, aquedutos, pontes e termas; muniu-se de arquitectos e artesãos gregos para reformar ou construir templos, teatros, mausoléus, arcos do triunfo, entre outros e ainda para rasgar um novo fórum dedicado a ele - o Forum Augustum; construi e equipou bibliotecas públicas e fundou escolas;
  • no plano religioso - preocupou-se em restabelecer a religião tradicional, ligando-a ao culto do Imperador de Roma. Esta deposição do poder religioso nas suas mãos permitiu-lhe fiscalizar os sacerdotes e obter a capacidade de interpretar as vontades dos deuses.

- Roma, uma humilde aldeia, surgiu como cidade no séc. VIII a.C. com a união dos Latinos do Monte Palatino aos Sabinos do Monte Quirinal, formando um núcleo urbano forte. Desde aí e até ao séc. IV a.C. o seu crescimento acompanhou o crescimento político e económico do seu povo e a prodigiosa construção do gigantesco império, do qual Roma foi o centro. Dominando, pela sua posição central, o Mediterrâneo, Roma tornou-se o ponto de partida e de chegada das rotas terrestres e marítimas que uniam todas as partes do Império, possibilitando a circulação e intercâmbio de gentes, produtos e notícias veiculadas por políticos, soldados, comerciantes, colonos, escritores, artistas, entre outros. Por todas estas razões o Estado Romano teve sempre grande preocupação com a qualidade de vida da cidade e do seu espaço físico, rasgando vias e praças, construindo aquedutos para o abastecimento  de água, estabelecendo regras construtivas para os edifícios civis e públicos e embelezando-a com monumentos e peças de estatuária que lhe dessem a imponência e o fausto necessários ao poder e ao domínio que a cidade exercia.

- Capital de tão vasto império, a Urbe ou cidade (de Roma), cresceu de uma forma cosmopolita, sendo um exemplo para inúmeras cidades do império, em todas as regiões ou provincias, a nível administrativo e civilizacional, pois os romanos fizeram das cidades, as sedes do seu governo em todas as províncias do império e da vida urbana o mais rápido processo de aculturação das populações; também a nível urbanístico pois o modelo urbano romano foi também adoptado nas cidades novas, em toda a parte do império e inspirou as reformas e melhoramentos urbanos feitos em muitas outras.

- As cidades do império organizavam-se em torno de dois eixos viários ortogonais - o cardo e o décumano. No cruzamento desses dois eixos rasgavam-se os fóruns, centros administrativos, políticos e religiosos. Junto à periferia das cidades, perto das portas, erguiam-se os complexos termais, os anfiteatros e teatros.

- Como assembleia política, o Senado foi a mais velha instituição do Estado Romano, tendo existido desde a monarquia até finais do Império.

Durante a República (510-27 a.C.), foi o órgão principal da vida política romana. Inicialmente possuía funções meramente consultivas, mas com o passar do tempo começou a dominar todos os assuntos da vida pública com carácter deliberativo e normativo. Cabia-lhe, como funções ordinárias, a política externa, as decisões de guerra e paz, a gestão das festas e solenidades religiosas, a administração das finanças e a tomada de medidas relativas à ordem pública; como funções extraordinárias, podia ainda declarar o estado de sítio, suspender os tribunais, intervir no governo das províncias e na gestão do exército, preparar as leis que os comícios deviam votar, entre outras. Tal amplitude de funções, em conjunto com o prestígio dos senadores fez das reuniões do Senado, na Cúria, o palco quotidiano da vida política do império durante a República, onde a arma principal de convencimento era a palavra, a Retórica, ou arte de bem-falar, importante factor no sucesso dos oradores e na condução das discussões e votações. Com o Império, o Senado entrou em decadência. Augusto reduziu o número de membros e retirou-lhe grande parte dos seus poderes: deixou de comandar o exército e de intervir na política externa.

- Durante o Império, a centralização política usou como principal instrumento de coesão do Estado a Lei Romana (conjunto de normas de Direito, superiormente definidas), que aplicada igualmente em todo o mundo romano, uniformizou os procedimentos da justiça e dos tribunais em todas as províncias, sobrepondo-se à diversidade dos direitos locais. A superioridade das leis romanas residia: na racionalidade e na lucidez dos princípios gerais que enunciavam; no pragmatismo e na experiência que colocam na análise das situações do quotidiano; na complexidade das situações que contemplavam e que eram vividas, a todos os níveis, nas várias regiões do império. A aplicação da justiça e a chefia dos tribunais reflectiram também a estrutura centralizadora dos Estado Imperial. Entregue, durante a República, aos magistrados pretores e aos pretores, a administração da justiça passou para a alçada dos imperadores e seus funcionários, no período do Império. O direito de apelação, reconhecido a todos os cidadãos que recorressem à justiça romana, só podia ser resolvido nos tribunais presididos pelo Senado ou pelo imperador, e a este cabia todos os casos de última instância. Desta forma, o imperador centralizou em si, os poderes legislativo e judicial.

- No século de Augusto, a paz e a prosperidade económica, trazidas pelas conquistas e pelo bom governo, proporcionaram aos Romanos o usufruto do ócio (tempo livre) e alteraram esses velhos costumes. Roma e toda a Itália foram invadidas por povos de todas as partes do império. De todas, as que mais contribuíram para a alteração dos hábitos e costumes foram os gregos. Os Romanos apreciavam-lhes o falar, os conhecimentos, a cultura e muitas outras coisas, e imitaram-nos: a língua grega, falada e escrita, passou a ser utilizada entre as elites cultas; os hábitos de luxo instalaram-se nos lares; o exotismo tomou conta do vestuário e dos penteados; os banquetes e os salões privados eram frequentes e a ida ás termas um hábito indispensável; o interesse pela filosofia, música e pelas artes dominaram os meios intelectuais. Na Roma imperial, como divertimento público, popularizaram-se os jogos que inicialmente foram divertimentos para os deuses oferecidos pelos humanos, e a sua realização obedecia a programas e rituais rigorosamente estipulados. Os mais antigos eram as corridas de cavalos, no Grande Circo Máximo, onde se seleccionava o melhor animal, que no fim era solenemente sacrificado e o sangue derramado para purificar e vivificar o solo. Outras das festividades públicas tradicionais eram as Grandes Procissões, que estão na origem das representações teatrais entre os romanos. A esta tradição associaram a influência do teatro grego, dando origem ao teatro romano, cópia do primeiro. O teatro tinha também representação em festividades privadas, nomeadamente em certas cerimónias fúnebres. Os combates entre feras e, mais tarde, entre homens e feras, também eram muito apreciados. A variedade de jogos criados dependeu muito da imaginação dos magistrados, cuja principal preocupação era agradar o poder e o povo.

 

 

A plebe urbana demonstrou apreciar estes espectáculos violentos e sanguinários, enquanto que as classes superiores preferiam  o refúgio nas villas campestres, rodeados de conforto e bucolismo, onde os prazeres do campo se associavam aos da leitura, da música, da filosofia e das artes, que conheceram o seu primeiro mercado privado entre a elite próspera e sofisticada do império.

 
Publicado Por Cíntia Pontes às 11:35
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Terça-feira, 11 de Novembro de 2008

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Grega (Continuação)

 

CERÂMICA E PINTURA

 

- De entre o artesanato artístico deixado pelos Gregos, a cerâmica é a que tem um maior destaque, pois era uma mercadoria de primeira necessidade pelas múltiplas funções que possuía (serviço doméstico, usos artesanais e comerciais, apoio às cerimónias religiosas e fúnebres). O seu estudo é, entre o de todas as outras artes gregas (arquitectura e escultura), aquele que melhor documenta a evolução da plástica grega e também a evolução social, cultural e política da História da Grécia.

 

- Evoluiu em cinco estilos principais:

» Estilo Proto-Geométrico (séc. XI a X a.C.), Idade das Trevas - Neste primeiro estilo predominam os motivos naturalistas e a influência creto-micénica. Vão-se introduzindo formas geométricas básicas tais como os losangos, os círculos, as linhas rectas e onduladas, entre outras;

» Estilo geométrico (sécs. IX e VIII a.C.) - Este estilo tinha como principal característica o uso de motivos geométricos numa decoração simples e sóbria, motivos esses que eram dispostos á volta do corpo dos vasos, compondo bandas ou frisos; as bandas eram decoradas com motivos organizados em combinações e variações criativas tais como meandros, gregas, triângulos, losangos, linhas quebradas ou contínuas, axadrezados, entre outros, que eram realçados a preto sobre o fundo de cor natural do vaso. Este estilo sofre, no séc. VIII, alterações como a introdução de elementos figurativos (animais e/ou figuras humanas) na decoração, que compunham cenas descritivas e narrativas, como batalhas ou cerimónias fúnebre e que eram apresentandos como meras silhuetas a negro, muito esquematizadas e estilizadas, de onde se excluíram todos os outros pormenores secundários; surgiu ainda a tendência para o aumento progressivo do tamanho das peças, que se destinavam a ser colocadas nos cemitérios como indicadores das sepulturas, á semelhança de estelas ou monumentos funerários. No final deste século o estilo geométrico entra em fase de desintegração.

 

 

 

 

» Estilo arcaico (final do séc. VIII ao séc. V a.C.) - Subdividiu-se em duas fases evolutivas:

- Fase orientalizante (até aproximadamente 650 a.C.), que é profundamente marcada por influências orientais. Os temas caracterizam-se pelo regresso ao figurativo (necessidade de narrar e representar) e pelo aparecimento das cenas de carácter mitológico. A figuração define-se pela representação de animais míticos ou lendários e de figuras híbridas como grifos (animais mitológicos, misto de leão e águia), esfinges (figura mitológica com cabeça de mulher, corpo de leão, cauda de serpente e asas de águia) e górgonas (figura mitológica, mulher com a cabeça armada de serpentes, o mesmo que Medusa); e pela representação de elementos vegetais e naturalistas, como lótus e palmetas; é dada preferência ás figuras de grande tamanho, tratadas ainda em silhueta estilizada, mas incluindo a técnica da incisão, pequenos traços realçados a branco ou vermelho que compunham pormenores anatómicos ou de vestuário;

 


 

- Fase arcaica (finais do séc. VII até cerca de 480 a.C.) - Fase marcada pelo aparecimento da cerâmica decorada com a técnica das figuras pintadas a negro. Sobre o fundo vermelho do barro destacam-se os elementos figurativos, representados como silhuetas estilizadas á maneira antiga (lei da frontalidade - rosto e pernas de perfil, olho e tronco de frente e ancas a três quartos) e a técnica da incisão continua em uso, permitindo pormenorizar o interior das figuras, agora enriquecidas com linhas de contorno dos músculos e outros pormenores como a barba, o cabelo e até o padrão do vestuário. Com todas estas preocupações e inovações, torna-se notório o maior rigor aplicado ás figuras, que lhes imprime um grande realismo e expressividade. Para além dos relatos mitológicos passam a ser representadas cenas da vida familiar e do quotidiano;

  


 


 

 

« Estilo clássico (sécs. V e IV a.C.) - Este estilo corresponde ao período do apogeu técnico, estético e conceptual do povo grego, no qual a arte foi encarada como uma consequência directa da superioridade criativa, racional e filosófica da cultura grega. O desenho e a pintura tiveram um enorme desenvolvimento através da descoberta, aperfeiçoamento e aplicação de revolucionárias inovações técnicas e formais tais como a criação dos cânones escultóricos, a perspectiva, as sombras e os claro-escuro e a posição em escorço. É implantada a técnica das figuras vermelhas sobre o fundo negro (mantendo-se, contudo, o fabrico da cerâmica das figuras negras), que confere á pintura uma maior perspectiva, dinamismo, realismo, naturalismo e expressividade. Nesta técnica, toda a superfície do vaso era coberta verniz negro, á excepção das figuras, que mantinham a cor avermelhada natural; os pormenores anatómicos e outros eram acrescentados com um pincel mergulhado em tinta preta. 

 


 

 

 

 

Durante este período verificou-se uma enorme liberdade criativa entre os modeladores e decoradores das peças cerâmicas: alguns autores misturaram figuras vermelhas e negras com fundos amarelados ou brancos, figuras negras com brancas, entre outras; nas oficinas da Ática desenvolveu-se uma cerâmica funerária com fundo branco, cujas figuras se definiam exclusivamente pela linha de contorno, traçada com precisão e onde a decoração primava pela austeridade (estilo belo); noutras escolas incorporaram-se figuras modeladas em relevo, colocadas sobre as partes mais largas dos vasos; surgiram também novas colorações, que em alguns casos, chegaram até á policromia.

 

  

 

 

Na época helenística (Estilo helenístico - séc. III ao ínicio da Era Cristã), por várias razões, a cerâmica grega perdeu o seu prestígio, qualidade artística e encanto, acabando por se banalizar.

 

- No que diz respeito á pintura grega, é á cerâmica que se vão colher todas as informações necessárias para compreender a sua evolução e ainda para o entendimento da cultura, da civilização e da plástica gregas, devido ao facto de quase toda a grande pintura mural ter desaparecido.

 

Pintura funerária a fresco

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 22:32
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Sexta-feira, 10 de Outubro de 2008

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Grega (Continuação)

 

ESCULTURA

 

- A escultura grega cumpriu funções religiosas, políticas, honoríficas, funerárias e ornamentais e possuía uma temática exclusivamente humana;

Relevo funerário

 

- Dividiu-se em três períodos:

» Período Arcaico (séc. VIII a V a.C.) - Influências das culturas egípcia, assíria, cretense e micénica; materiais como a madeira, a pedra e a terracota; neste período as esculturas mais importantes são os altos e baixos-relevos (quando as esculturas sobressaem da parede com metade ou mais do respectivo volume, ou quando sobressaem com menos de metade, respectivamente), que se encontram principalmente nos frisos, métopas e tímpanos dos templos (neste caso os temas eram principalmente mitológicos pois os templos serviam para o culto divino). As figuras apresentam uma posição hierática (rígida), sem expressividade ou naturalismo; os corpos possuem uma anatomia apontada esquematicamente e gestos bastante rígidos, quase estáticos; geralmente têm a perna esquerda avançada sobre a direita (influência da lei da frontalidade egípcia) e os braços caídos ao longo do corpo ou a mão direita sobre o peito, em sinal de adoração; os rostos são orientalizantes, os olhos oblíquos e amendoados, as maçãs do rosto salientes e a barba e os cabelos simplificados e geometrizados; existiam dois tipos básicos de figuras: o kouros (singular de kouroi), representação masculina de um jovem nu e símbolo da juventude e da plenitude; e a koré (singular de korai), jovens virgens, vestidas com longas túnicas pregueadas e pintadas com cores luminosas, vivas e cintilantes. Os seus rostos simétricos, com leves e enigmáticos sorrisos e cabelos longos, ondulados ou entrançados, possuem uma imobilidade serena e graciosa;


    

                Hera de Samos                                   Dama de Auxerre

 

          Koré de Chios                   Koré de Peplos         Koré dos olhos de amêndoa

 

       

Kouros grego

 

 

O Moscóforo

 

 

- A transição para o período clássico inaugura-se com duas obras em estilo severo (séc. V a.C.), feitas em bronze, que apresentam uma maior expressividade e realismo e um carácter imponente: O Auriga de Delfos e Poseídon (figuras em baixo, respectivamente).

 

  

 

 

» Período Clássico (sécs. V e IV a.C.) - As figuras ganham uma maior aproximação do real, o tratamento do corpo é muito mais realista e denota-se uma maior expressividade nos rostos, gestos e movimentos e uma preocupação com as proporções, devido á influência dos cânones. A partir do séc. IV a.C., a escultura passa a ser marcada por um aspecto mais gracioso, sedutor, harmonioso, elegante e dinâmico e é introduzido o nu feminino; as figuras ganham uma pose mais elegante e natural, e a beleza do ser humano é idealizada, tentando atingir a perfeição total, com esculturas de jovens nus atléticos e belos; ainda neste período é introduzida a verdadeira noção de vulto redondo, que rompeu com o rigor da frontalidade, podendo as estátuas ser vistas de todos os ângulos; é utilizado o bronze a o mármore branco em praticamente todas as esculturas;

 

   

      Afrodite de Cnido, Praxíteles                        O Discóbolo, Míron

 


Hermes e Dionísio, Praxíteles, cópia romana

 

  

                     Doríforo, Policleto                        Afrodite de Siracusa, Praxíteles

 

Ménade, Scopas

 

 

Outras esculturas gregas do período clássico

 

 

» Período Helenístico (sécs. III a I a.C.) - Neste século, o "realismo idealista" dá lugar ao "naturalismo", seguido do "realismo expressivo". Os grupos escultóricos sucedem-se ás estátuas individuais e desenvolve-se o gosto pelo retrato e pelas cenas do quotidiano que são captadas com tal realismo que dá ênfase até às disformidades físicas do Homem e às representações da infância e da velhice (que até agora não tinham sido representadas); a serenidade típica das esculturas gregas é substítuida pelo dramatismo e pelos efeitos teatrais revelados nos gestos e movimentos, por vezes exagerados, e pelos rostos carregados de emoção. Surge um grande gosto pelas figuras em escorço e pelas contorções do corpo humano, que possui agora formas musculares muito mais  acentuadas, elasticidade e grande elegância. Neste período é introduzido, pela primeira vez, o nu feminino na arte grega. Já em pleno período romano, tornam-se populares as conhecidas estatuetas de Tanagra (pequenas figuras em barro policromado), cópias de originais clássicos, inspiradas em cenas pitorescas do quotidiano e da religião, que constítuiram uma arte delicada e requintada de salão, destinada ao consumo privado das elites, o que mostra a complexidade e erudição da sociedade grega deste período.

 

Estatueta de Tanagra

 

O Gaulês Moribundo

 

 

O grupo Laocoonte

 

O chamado Gálata Ludovisi, Epígonos

 

 

A velha bêbada

 

 

O Boxeador do Quirinal

 

      

            Vénus de Milo                                 Vitória de Samotrácia

 

Menino com ganso

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 20:46
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Sábado, 20 de Setembro de 2008

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Grega

 

A arte grega liga-se à inteligência, pois os reis não eram deuses, mas sim seres inteligentes e justos que se dedicavam ao bem-estar do povo. Ao contemplar a Natureza, o artista entusiasma-se pela vida e tenta, através da arte, exprimir as suas ideias e, numa busca constante pela perfeição, cria uma arte de elaboração intelectual.
Aliou estética e ética, politica e religião, técnica e ciência, realismo e idealismo, beleza e funcionalidade. Esteve ao serviço da vida pública e religiosa.
A arte grega é antropocêntrica, pois os artistas preocupavam-se com o realismo e também procuravam exaltar a beleza humana, destacando a perfeição das suas formas. É ainda racionalista, pois reflecte nas obras de arte, as observações concretas dos elementos que envolvem o Homem.
O objectivo final da arte era a procura da unidade, beleza e harmonia universais suportadas por uma filosofia que buscava a relação do Homem com o divino, com o mundo e a sua origem, com a vida e a morte e também com a dimensão interior do próprio Homem (valores que hoje designamos por Classicismo);

 

 

 

ARQUITECTURA

 

- A arquitectura grega mostra-se como um dos aspectos mais importantes da civilização grega, dado que os seus colossais monumentos arquitectónicos provocam uma grande admiração perante os olhos daqueles que os observam e porque mostram o grande controlo que os gregos exerciam sobre si mesmos, revelado nas suas obras através da perfeição, do equilíbrio e da harmonia;

- Influências das culturas mesopotâmica, egípcia, cretense e micénica;

- Inicialmente a arquitectura grega utilizou materiais como a madeira, tendo sido substituída pela pedra calcária (sobretudo o mármore) a partir de finais do séc. VII a.C.;

- Dividiu-se em três períodos distintos:

» Período Arcaico (séc. VIII ao inicio do séc. V a.C.) - Caracteriza-se pela procura do inteligível, da ordem, do monumental e da maturidade;

» Período Clássico (segunda metade do séc. V ao séc. IV a.C.) - Período caracterizado pela procura do equilíbrio, da plenitude, do idealismo e do naturalismo/realismo. É considerado o século de ouro da arquitectura grega.

» Período Helenístico (séc. III a.C. ao inicio da Era Cristã) - Época de declínio, do gosto pelo concreto e pelo individual; mistura de culturas;

- Criaram normas e regras construtivas, cânones para a concretização artística, valores estéticos e modelos duradouros, nos quais todos os detalhes, os aspectos decorativos e/ou pormenores tinham de se sujeitar á harmonia e ao ritmo do conjunto. Definiram assim os princípios básicos da geometria plana e espacial e as primeiras noções de medida, proporção, composição e ritmo através dos quais qualquer organização plástica de deveria reger. Para isso, os arquitectos gregos elaboraram projectos nos quais constavam o estudo topográfico do terreno, a adaptação do edifício ao relevo e a escolha criteriosa da ordem, de acordo com o tipo de edifício. Depois elaboravam cálculos onde as medidas e as proporções eram rigorosamente estabelecidas. Criavam ainda maquetas, em madeira ou terracota, que eram submetidas posteriormente a aprovação final.

 

 

- O templo foi o edifício que despertou maior interesse entre os gregos e a expressão máxima da arquitectura grega;

- Era a morada e abrigo do Deus, local onde se colocava a sua imagem, á qual os fiéis não tinham acesso, pois os rituais eram realizados ao ar livre, ao redor do templo (Os fiéis apenas subiam ao templo para entregarem oferendas e realizarem sacrifícios). Também por esse motivo havia uma maior preocupação com a decoração exterior do que com a interior;

- A sua forma e estruturas básicas evoluíram a partir do mégaron micénico, que era formado por uma sala quadrangular, um vestíbulo ou pórtico suportado por duas colunas e com telhado de duas águas). Esta estrutura básica tornou-se, a pouco e pouco, mais complexa, de maiores dimensões e rodeada de colunas;

Templo de Ceres, Paestum

 

- Exteriormente era decorado com majestosas esculturas e pintado com azuis, vermelhos e dourados;

- Utilizava o sistema de construção trilítico definido por pilares verticais unidos por lintéis (arquitrave) horizontais;

 

Templo de Poseídon

 

 

- Possui uma aximetria axial, criando fachadas simétricas, duas a duas;

- Na sua estrutura planimétrica (planta) era constituído por três espaços: a pronaos (espécie de pórtico); a  naos ou cella (local onde se encontrava a estátua da divindade) e pelo opistódomos (câmara do tesouro onde eram guardados os bens preciosos da cidade, assim com as oferendas ao Deus). Esta estrutura tripartida era rodeada por um peristilo, uma espécie de corredor coberto e circundante, por onde circulavam os fiéis;

 

 

 

- Em alçado era formado por uma base ou envasamento (plataforma que servia para nivelamento do terreno), por colunas (sistema de elevação e suporte do tecto), pelo entablamento (elemento superior e de remate, constítuido pela arquitrave, pelo friso e pela cornija, encimada pelo frontão triangular). O tecto de duas águas era coberto por telhas em barro;

- As colunas e o entablamento eram construídos segundo estilos arquitectónicos ou ordens (processo de articulação métrica dos diversos elementos de um todo, em função da sua harmonia final. Essa articulação, a partir da base, da coluna e do friso, regula as dimensões do templo em números, características e relações mútuas):

» Ordem dórica - Nasceu na Grécia Continental por volta de em 600 a.C.; possui formas geométricas e a sua decoração é quase inexistente; não tem qualquer tipo de base, assenta directamente no estilóbato (último degrau, superior, onde assenta o edifício); apresenta um aspecto sóbrio, pesado e maciço, traduzindo assim a forma do homem; o fuste é robusto e com caneluras em aresta viva e capitel formado pelo ábaco e equino ou coxim, extremamente simples e geométrico, com forma de almofada. Simboliza a imponência e a solidez;

Colunas dóricas do Templo do Pártenon, Atenas

 

» Ordem jónica - Nasceu na Jónia no séc. VI a.C.; difere da ordem anterior nas proporções de todos os elementos e na decoração mais abundante da coluna e do entablamento e pela coluna assentar numa base; pelas suas dimensões e formas mais esbeltas, traduz a forma da mulher; possui um fuste mais longo e delgado, com caneluras semicilíndricas, sem arestas vivas, e em maior número que na ordem dórica; o capitel possuía um ábaco simples e o equino em forma de volutas enroladas em espiral;

Coluna do Templo do Erectéion, Atenas

 

 

» Ordem coríntia - Apenas apareceu no final do séc. V a.C. e é uma derivação da ordem jónica, resultado do seu enriquecimento decorativo; possuía um capitel com forma de sino invertido, decorado com folhas de acanto, coroadas por volutas jónicas; a sua base era mais trabalhada e o fuste mais adelgado; simboliza a ambição, a riqueza, o poder, o luxo e a ostentação;

Colunas coríntias do Templo de Zeus Olímpico, Atenas

 

 

 

Estrutura da ordem dórica e jónica, respectivamente

 

 

 - Em alguns templos, a função icónica das colunas adquire antropomorfismo num dos pórticos, através da sua substituição por estátuas de figuras femininas - cariátides - ou masculinas - atlantes;

Pórtico das cariátides no Templo do Erectéion, Atenas

 

 

 - Em todas as suas construções, os arquitectos gregos procuraram uma ilusória sensação de simplicidade, o que não é inteiramente verdade, pois verificaram-se em templos dóricos determinadas deformações ópticas que foram corrigidas matemáticamente (correcções ópticas): os elementos horizontais do templo que, visualmente, são lidos de forma côncava, são ligeiramente encurvados para cima e para fora; os elementos verticais inclinados para dentro e para cima segundo um ponto de fuga; toda a colunata é construída ligeiramente inclinada para dentro do templo, pois a tendência de leitura era ver o edifício curvado para fora; a distância entre as colunas, exactamente iguais quando medidas, aparecem ligeiramente distorcidas ao olho humano; o fuste das colunas era ligeiramente engrossado no primeiro terço da sua altura (êntase) e o intercolúneo era maior entre as colunas das pontas do que nas do meio;

 

        Templo de Hefesto

 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 23:26
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Sábado, 30 de Agosto de 2008

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Grega (Contexto político-social)

 

A Antiguidade Clássica é período da História que compreende a origem e o desenvolvimento das civilizações grega e romana. Vai do 1º Milénio a.C. a 476 d.C. (queda do Império Romano do Ocidente).

 

 

" A lição da Grécia (é uma) lição de modéstia e de lucidez, que coloca o Homem no seu lugar: capaz de compreender, mas também de ignorar; amante da vida, mas consciente de que ela é precária; capaz de usar a sua inteligência com prazer, sem esquecer que o futura pertence aos Deuses - deuses concebidos á sua imagem e graças aos quais a medida humana, na sua forma ideal, fornece a referência suprema ao universo. (...) Este Grego sabe que nada se consegue sem luta. Mas, consciente da sua fraqueza, não despreza o adversário. (...)

Para definir o pensamento grego emprega-se o termo humanismo (...); o Homem é um ponto de partida e uma medida necessária, e não um limite ou um fim. "

 

François Chamoux, A Civilização Grega, Edições 70

 

 

 

 

O contexto político-social da Arte Grega

 

- No séc. V a.C., a Atenas democrática de Péricles representa o culminar de um tempo histórico e artístico da Grécia ou Hélade, a primeira civilização da Antiguidade Clássica;

- Após as Guerras Persas (em 499 a.C., os Persas, procurando uma saída para o mar, atacaram a Grécia começando pelas cidades gregas da Ásia Menor. Assim começou uma longa guerra que só terminou em 449 a.C., com a derrota dos Persas, o que deu uma evidente supremacia aos atenienses), em 449 a.C., Atenas viveu um tempo de paz, de ócio e de liberdade, o que contribuiu para um grande florescimento que, conjugado com a intervenção de homens dotados, fizeram de AtenasEscola da Grécia. Entre esses homens sobressaiu Péricles, que deu o nome ao século pela sua acção e eloquência como homem do Estado e como mentor de um projecto artístico-cultural e cívico;

- Para os atenienses, a sua cidade era o espaço físico da pólis (agregação de homens livres), a comunidade dos cidadãos. Como forma de organização politica adoptaram o regime de cidade-estado, cujo governo evoluiu da monarquia á democracia. Deste modo, o espaço urbano de Atenas era composto por uma fortaleza no ponto mais alto, a acrópole (cidadela militar, onde estão instalados os locais para o culto religioso e cívico), por uma zona labiríntica na parte baixa, que inclui a ágora (praça pública - centro da vida da pólis, com espaços para reuniões políticas, manifestações desportivas e artísticas, comércio, assembleias, teatros, estádios, mercados, feiras), pelos campos envolventes e pelo porto do Pireu (porta aberta para o mar, importante para as trocas comerciais e desta forma, para o desenvolvimento do comércio);

- Com uma população de aproximadamente 350 000 habitantes (Cidadãos – Naturais de Atenas, filhos de pai e mãe atenienses. Apenas estes tinham direito a exercer função politica e administrativa; Metecos – Estrangeiros que tinham autorização para residir em Atenas e pela qual pagavam um imposto especial. Eram homens livres, geralmente comerciantes ou artesãos, mas sem direitos políticos – sendo o resto mulheres e escravos), Atenas viveu uma confortável situação económica e social: como o solo era pobre e montanhoso, os atenienses estabeleceram trocas comerciais com a Magna Grécia, a Grécia asiática e insular; desenvolveram os ofícios e as indústrias localizados em quarteirões e bairros; lotearam terras fora da Ática para a fixação de colonos e exploração de produtos agrícolas;

- A situação politica também era estável: estava consolidada a democracia devido ao contributo de legisladores como Sólon, o reformador (garantiu uma igual justiça para todos e repartiu os cargos públicos pelas diferentes classes sociais), Pisístrato, o tirano (assegurou a prosperidade económica e cultural de Atenas) e Clístenes, o fundador da democracia. Esta democracia era imperfeita pois só os cidadãos homens tinham direitos políticos e administrativos e o direito ao voto; porque não havia liberdade de expressão (o filósofo grego Sócrates foi condenado á morte pois pôs em causa a existência dos Deuses, sendo acusado de, através das suas ideias, corromper as ideias da juventude) e porque existia a lei do ostracismo (expulsar da cidade os cidadãos que não concordassem com o sistema);

- Em Atenas celebravam-se ao ar livre cerca de 60 festas religiosas e culturais por ano, pois a religião, que estava ao cargo do Estado, cumpria-se também deste modo. Multidões de atenienses e forasteiros participavam nestes programas como forma de consciencialização e demonstração da sua grandeza e dos seus valores, para o mundo grego e para os povos vizinhos; os gregos adoravam vários Deuses (politeísmo) que foram criados á imagem e semelhança dos Homens (antropomorfismo) e possuíam também sentimentos, defeitos e vícios. Distinguiam-se dos seres humanos pela imortalidade (que conseguiram por terem praticado feitos sobre-humanos) e pela superlativização das qualidades humanas – sempre belos, jovens e inteligentes. Para que a intervenção dos Deuses fosse benéfica era praticado o culto divino. Eram organizadas festas, sacrifícios, oferendas, procissões (por exemplo, as Panateneias de Atenas e as Grandes Dionísias) e jogos. Os gregos não aceitavam dogmas, não tinham “bíblias”, não seguiam magias e não tinham o conceito de pecado, apenas acreditavam em mistérios (doutrinas que só eram comunicadas aos iniciados). Cada pólis tinha os seus cultos privados e a sua organização ficava a cargo dos cidadãos;

- Como resultado de todo este clima próspero, a cultura e a arte floresceram: dado que a cidade tinha sido destruída pelos Persas durante as guerras, fizeram-se grandes trabalhos públicos de restauro e construção (muralha, templos, fontes e edifícios municipais) que ocupavam homens sem trabalho, uma mão-de-obra especializada, uma classe média numerosa e escravos.

Esta oportunidade e liberdade de criar e produzir, a abastança de fundos, vindos do tesouro da Liga de Delos (associação das cidades-estado da Ásia Menor, das ilhas e da Grécia continental dirigida por Atenas, com fins defensivos. Cada cidade pagava tributos que estavam reunidos num tesouro, na ilha de Delos. Mais tarde Péricles mudou o tesouro para Atenas, serviu-se dele para a reconstrução da sua cidade e impôs o seu poder militar e político ás outras cidades, de uma forma imperialista) e a genialidade singular de Péricles atraíram a Atenas muitos artistas talentosos, filósofos e intelectuais que contribuíram para um notável desenvolvimento. Reunindo influências de diversas tradições (povos da Mesopotâmia, do Egipto, de Creta e de Micenas), criaram uma síntese cultural original que deu aos atenienses a possibilidade de aprender, de pensar e de viver de um modo actuante e crítico.

- No entanto esta prosperidade foi efémera. As criticas á democracia e ao próprio governo de Péricles impuseram-se; a ambição de Esparta e da sua liga do Peloponeso (associação das cidades do Peloponeso, dirigida por Esparta, em oposição á Liga de Delos. Pretendiam destronar Atenas e ocupar a sua posição hegemónica) fizeram eclodir a Guerra do Peloponeso (envolveu as cidades das duas Ligas entre 431-404 a.C. e levou á destruição da cidade de Atenas e á sua sujeição á oligarquia de Esparta e ás suas regras); a peste apareceu na Ática. Matou cerca de um terço da população inclusive Péricles e arruinou o comércio, o trabalho nos campos e a indústria. Surgiu assim um tempo de dúvidas e convulsões, que deitaram por terra o tempo de confiança, liberdade e prosperidade que os atenienses tinham vivido até então.

- Em 338 a.C., Atenas é conquistada por Filipe II, rei da Macedónia, e depois pelos Romanos; apesar disso manteve-se um importante centro filosófico, científico e artístico.

 

A acrópole de Atenas

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 21:10
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