Domingo, 15 de Março de 2009

A Arte Medieval - Arte Românica em Portugal

 

ARQUITECTURA

 

» Arquitectura religiosa

 

- A arquitectura românica foi introduzida em Portugal no início do séc. XII e prevaleceu até finais do séc. XIII;

- O quadro social, económico e político em que se desenvolveu foi idêntico ao dos outros países europeus, com o acréscimo da afirmação de indepedência do território;

- A igreja românica, símbolo da espiritualidade da época, esteve ligada a uma ordem religiosa, a um mosteiro ou instalada no seio de uma comunidade agrícola. Deste modo, o Românico português possui características fortemente rurais e está ligado à construção de igrejas de reduzidas dimensões, que dependendo da região, se revestiam de maior ou menor qualidade técnica e exuberância formal e decorativa;

 

Igreja de S. Salvador de Resende

 

Igreja de S. Tiago, Coimbra, séc. XII

 

Igreja de Santa Maria do Olival, Tomar

 

Igreja de São Martinho de Mouros, Viseu

 

Igreja de S. Pedro de Rates, Póvoa de Varzim, Séc. XII

 

 

- Apenas em cidades como o Porto, Braga, Coimbra, Tomar, Évora e Lisboa é que as construções, as sés, se revestiram de maior monumentalidade e possuíam grande riqueza e variedade técnica e formal, bastante parecidas com as catedrais europeias. Estas cidades e os mosteiros tornaram-se os principais focos difusores da arte românica em Portugal;

 

 

Fachada principal e vista exterior da abside da Sé Velha de Coimbra, respectivamente, séc. XII

 

Sé de Lisboa, séc. XII: portal principal, traseiras do edifício e interiores, respectivamente

 

 

- Os materiais usados nas construções religiosas, civis e militares foram as existentes em cada região: no Norte do país foi emprege o granito; no Centro o calcário; e no Sul o tijolo e a taipa;

- As igrejas românicas portuguesas, no geral, são caracterizadas pela robustez (dada pelas paredes grossas, pelos contrafortes salientes e pelo uso da pedra aparelhada); pela grande sobriedade e austeridade, a nível formal e decorativo; pelo uso de uma única nave com cabeçeira em abside redonda ou quadrangular, pela cobertura com um telhado de duas águas; pela utilização do arco de volta perfeita; e, sem fugir à regra, pelos relevos didácticos e decorativos, usados interior e exteriormente, e pela aplicação de cachorrada na cornijas;

 


Cachorrada da Igreja de S. Gens de Boelhe, Penafiel

 



Igreja de São Martinho de Cedofeita, Porto, séc. XII

 


Mosteiro de Leça do Balio


Igreja de Almacave, Lamego

 

Igreja se São Pedro, Paços de Ferreira

 

 

Igreja de S. Salvador de Travanca, séc. XIII

 

Igreja de São Pedro de Roriz, Santo Tirso

 

Igreja do Mosteiro de S. Salvador de Paço de Sousa, Porto

 

Igreja de S. Gens de Boelhe, Penafiel

 

Igreja de São Miguel da Gândara, Penafiel

 

Igreja de São Cristovão de Rio Mau, Vila do Conde, séc. XII

 

Igreja de São Pedro de Cete, Paredes

 

Igreja de S. Salvador de Carrazeda de Ansiães, Trás-os-Montes, séc. XII

 

 

 

» Arquitectura civil e militar

 

- Tal como no resto da Europa, as fortificações (castelos com residência ou alcáçova, castelos-refúgio e torres de atalaia ou protecção) tiveram como principal papel a defesa da população em situações de perigo e possuíam as mesmas caracteristicas formais e técnicas;

- Os castelos com residência possuíam uma sólida construção castrense, com aparelho de cantaria lavrado, tendo no seu interior uma residência; apresentavam um aspecto robusto pelo carácter defensivo que possuíam;

 

Castelo de Guimarães

 

Castelo de Pombal, Leiria, séc. XII

 

Castelo de Penedono ou do Magriço, Viseu

 

Torre de menagem do Castelo de Bragança

 

Torre de menagem e ruínas do Castelo de Monsaraz

 

 

- Os castelos-refúgio tinham como principal função acolher os povos em perigo; eram construídos em sítios estratégicos como locais rochosos e propícios e não se encontravam muito afastados das povoações, para que a protecção fosse quase que imediata;

 

Castelo de Almourol, séc. XII

 

Ruínas do Castelo de Celorico da Beira

 

Castelo de Tomar

 

Castelo de Vila Viçosa: entrada, muralhas e fosso defensivo

 

 

- Foram ainda construídas torres defensivas, associadas aos mosteiros;

- Na arquitectura civil, a Domus Municipalis de Bragança recebe principal atenção. Era usada como local de reuniões e possuia um sistema recolector de água da chuva e uma cisterna para a armazenar.

 

Domus Municipalis de Bragança, sécs. XII-XIII

 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 19:14
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Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2009

A Arte Medieval - Arte Românica

 

 

A arte românica surgiu em plena época feudal, tendo-se desenvolvido entre os sécs. XI e finais do séc. XII, transformando-se numa arte amadurecida e estruturalmente flexível, que se espalhou por toda a Europa, tornando-se no primeiro estilo internacional da Idade Média. Nesta época, toda a civilização europeia se moveu em nome de uma renovação arquitectónica que foi a expressão mais pura da Fé.

A religião, o temor religioso e o medo do Juízo Final, movimentaram os fiéis nas peregrinações aos principais lugares santos. Os mosteiros e as igrejas que eram centros difusores da religiosidade da época, tinham uma maior importância quando possuíam relíquias de santos, tornando-se, eles mesmos, locais de peregrinação.

As peregrinações e as cruzadas, feitas por populares e nobres, contribuíram em grande parte para a internacionalização da arte do Oriente e do Românico.

O sistema político feudal e a religião foram os dois pólos dinamizadores da arte na sociedade medieval. A arte serviu a majestade do poder temporal e religioso, sendo feita para honorificar ambos.

 

 

 

 

ARQUITECTURA

 

- A arquitectura românica recebeu influências da Antiguidade pagã, do Oriente (nomeadamente da arte bizantina) e dos povos bárbaros e da Irlanda;

- Dividiu-se em dois tipos:

 

» Arquitectura civil e militar

 

- O castelo: Para além do sentido religioso aplicado nas artes em geral, a época necessitou também de uma arquitectura com características defensivas. Nesse sentido surgiu a torre (habitação do senhor ou do nobre), situada numa elevação natural ou artificial, para uma maior segurança; ao seu redor era construída, em terra ou madeira, uma paliçada e um fosso com água, que defendiam a torre, as casas dos populares, os estábulos e os celeiros. A partir do séc. XI, devido a novas tácticas de defesa e armamento, as torres passaram a ser construídas em pedra. Apresentavam um aspecto fortificado e austero, com paredes grossas e altas; tinham forma quadrangular, reforçada por contrafortes salientes, e uma planta muito simples (duas ou três divisões unidas, sem espaços de ligação). As mais complexas possuíam no piso inferior um átrio com uma loja ou oficina; no segundo piso uma sala, a aula, que servia, por vezes, como local de reuniões de família, e a capella (oratório); no terceiro piso situavam-se os aposentos. A entrada da torre era bastante peculiar pois o acesso era feito directamente para o primeiro piso, através de uma escada em madeira que era retirada em momentos de perigo.

 

Torre de D. Urraca, Espanha, séc. X

 

 

Devido ao contacto com o Oriente das cruzadas, as torres evoluíram no sentido do castelo, que apresentava todas as características da torre, mas ocupava um maior espaço e continha mais elementos arquitectónicos como: uma dupla muralha com paredes compactas, terminada em ameias (aberturas no parapeito da muralha que serviam para os defensores avistarem os inimigos), rodeada pelo adarve ou caminho da ronda com baluartes com seteiras (aberturas na muralha para, como o nome indica, se lançarem setas ou flechas) nas guaritas, fosso (escavação profunda e regular, destinada a dificultar e, principalmente, impedir o acesso do inimigo  e, desde o séc. XII, por cima das entradas, mata-cães; possuíam uma torre de menagem, que permitia a segurança do castelo; o pátio exterior; a capela; as cisternas; as casas das guarnições e dos cavaleiros; as cavalariças e os armazéns;

 

Torre de menagem do Castelo de Monsaraz, Portugal

 

Castelo de Peyrepertuse, França

 

 

 

» Arquitectura religiosa

 

- Na formação desta tipologia tiveram grande importância os ensinamentos das ordens religiosas de Cluny (a partir de 984) e de Cister (a partir de 1100): o estilo cluniacense, de ornamentação profusa e muito luxuosa, com pinturas murais e esculturas decorativas, contrastava, sem dúvida, com a grande sobriedade cisterciense, cujas construções possuíam paredes nuas, quase sem elementos decorativos;

- A Europa Medieval, como afirmou Raoul Glaber, "cobriu-se com um manto branco de igrejas", todas elas unidas pela mesma fé e pelos mesmos princípios, mas com uma grande diversidade formal, com particularidades próprias de cada região. Foi esta diversidade na unidade que mais caracterizou o Românico;

- A catedral (também denominada por igreja, na linguagem comum): Definida a partir do século XI, apresenta como novidade em relação às anteriores o facto de ser totalmente abobadada em pedra, substituindo os tectos em madeira: a nave principal era coberta por abóbadas de berço ou canhão, que em alguns casos eram substituídas por cúpulas e as naves laterais eram cobertas por abóbadas de aresta (cruzamento na perpendicular de duas abóbadas de berço, da mesma dimensão e ao mesmo nível);

 

Interior da Catedral de Durham, Inglaterra: salientam-se as abóbadas de aresta e as grossas colunas

 

 

- Articulação em planta da catedral românica: As igrejas românicas seguem dois modelos: o menos utilizado, de planta centrada, em cruz grega, hexagonal, octogonal ou circular, de influência oriental; e o dominante, de tipo basilical, em cruz latina, com três, cinco ou sete naves. As naves da catedral são atravessadas por uma outra, o transepto, que podia ter apenas uma nave ou ser tripartido como o corpo da igreja e que confere ao edifício a sua forma cruciforme; no ponto de cruzamento aparece o cruzeiro, encimado pelo zimbório ou torre lanterna (sistema de iluminação e arejamento da igreja); no lado nascente do transepto abrem-se um ou dois absidíolos, que por vezes eram colocados no alinhamento das naves laterais; a nave central conduz à abside central, que contém a capela-mor onde se situa o altar e o coro. Devido ao aumento do culto, foi necessário construir mais altares onde se celebravam vários ofícios ao mesmo tempo; para tal, foi construído o deambulatório (espécie de corredor ou nave curvilínea), que contorna a abside e geralmente possui três a cinco capelas radiantes (que serviam para instalar os altares secundários). Este em conjunto com a abside forma a cabeceira. As igrejas de peregrinação possuíam uma cripta, local onde se depositavam e veneravam os restos mortais e/ou as relíquias dos santos e onde se realizavam cerimónias religiosas; em alguns casos a igreja românica é precedida por um nártex, que serve de vestíbulo à igreja (influência da basílica cristã); destinava-se a abrigar os catecúmenos (não baptizados), os energúmenos (possuídos dos demónio) e os penitentes; ou por um átrio, um recinto aberto, espécie de pátio quadrangular rodeado por quatro alas abobadadas e colunadas. Consoante as regiões, a catedral podia ter uma ou duas torres sineiras, que ladeavam a fachada principal e possuíam diversas aberturas que difundiam a luz para a nave principal;

 


Igreja de Saint Gilles-du-Gard, França

 

 

- Alçado interno da catedral românica (desenho do edifício projectado num plano vertical, perpendicular à base): As igrejas são constituídas pela arcada principal, que divide a nave central das laterais e é formada por pilares ou colunas; pela tribuna, uma espécie de galeria semiabobadada, aberta para a nave central, que se destinava às mulheres que iam sozinhas à igreja, pois daí se assistia aos ofícios religiosos; pelo trifório, formado por arcos e que, por vezes, substituía a tribuna e interligava o pequeno corredor situado acima da nave lateral à nave principal (na inexistência desse corredor, o trifório era apenas uma arcatura decorativa cega); e pelo clerestório, a zona de iluminação da igreja que fica pegado aos arcos do tecto, constituído por janelas ou frestas;

 

Catedral de Malmesbury, Inglaterra: na imagem pode-se ver a arcada principal (nível inferior), o trifório (nível intemédio) e o clerestório (nível superior)

 

 

- Devido ao equilíbrio de forças necessário à sustentação das abóbadas, as paredes da catedral românica são grossas, compactas e com poucas aberturas. Isto confere aos interiores, um clima místico de paz e recolhimento, propício à reflexão e à oração;

 

Igreja de Notre-Dame du Port, França, séc. XI

 

Igreja de Notre-Dame-la-Grande, França, 1143

 

Igreja de Santa Madalena de Vézelay, França, 1120

 

Catedral de Modena, Itália

 

Abadia de Santa Maria Laach, Alemanha, séc. XI

 

Basílica de Saint-Sernin de Toulouse, França, séc. XI: vista da abside e da torre-lanterna, sobre o cruzeiro

 

Basílica de Saint-Foy, França

 

 

Vista exterior da abside principal da Basílica de Santa Giulia, Itália, séc. XII

 

 

- O efeito geral da catedral românica é de grande solidez e robustez, reforçado pelos contrafortes salientes e chafrados ou adossados, situados exteriormente no mesmo alinhamentos dos pilares ou colunas que serviam para sustentar as abóbadas ou as cúpulas utilizadas na cobertura; outra das principais características da igreja românica é a horizontalidade;

 

Igreja de S. Pedro de Vilanova de Dozón, Espanha

 

 

- A decoração esculpida das igrejas românicas possui influências bárbaras e bizantinas. Os relevos, ornamentais, figurativos e sobretudo didácticos, distruibuem-se interna e externamente. No exterior do edifício, a decoração escultórica  estava limitada ao portal e à cornija: as cornijas (remate logo a seguir ao telhado) eram decoradas com arcos cegos e cachorradas (conjunto de cachorros, isto é, peças salientes esculpidas), que podiam ter também uma função de suporte da cornija. Os cachorros possuíam formas geométricas, zoomórficas e antropomórficas (as últimas exerciam uma função de educação moral, cívica e religiosa, ou de crítica social e política); a fechar os algeroses (caleiras) existiam gárgulas, que serviam para escoar a água da chuva e podiam ter tanto uma forma simples como serem aproveitadas para a representação de motivos animalistas e míticos;

 

Gárgulas da Igreja de Saint-Foy, França

 

 

Na fachada principal da catedral os elementos decorativos que mais se destacam são as rosáceas (além de decorarem o exterior do edifício, também iluminavam o interior), trabalhadas com motivos geométricos e florais; os grandes janelões (que possuíam as mesmas funções da rosácea); e o portal, que tanto podia ser simples como encaixado num pórtico saliente. O mais vulgar possui: uma entrada chanfrada, ou ombreira, ornamentada com colunelos; uma porta simples ou dupla, que tem a meio do vão uma coluna, também esculpida (mainel), que sustenta a arquitrave (lintel ou dintel), decorada com um relevo esculpido; e um tímpano, espaço semicircular circundado por arcos de volta inteira (arquivoltas), sustentado pelo lintel;

 

Rosácea da Catedral de Durham, Inglaterra

 

Portal da Catedral de Saint Lazare, França: detalhe do tímpano (fig. 2), do mainel e do lintel (fig. 3)

 

Tímpano do portal da catedral de Santiago de Compostela, Espanha

   

Decoração do lintel da Catedral de Santo André, França

 

Portal da Igreja de S. Jorge, Hungria

 

 

- O mosteiro: À sombra destes viveram monges (como os das ordens de Cluny e de Cister) ou monges cavaleiros (como os Hospitalários e Templários), que foram inicialmente os detentores do saber. Coube quase por inteiro aos mosteiros a difusão do estilo românico, visto que eram os mais importantes núcleos culturais  e artísticos deste período. Seguido o ideal ascético da fuga mundi, os mosteiros eram quase todos instalados em zonas isoladas, no alto das montanhas ou em vales e clareiras das florestas, embora alguns existissem no seio das cidades. Eram uma espécie de pequenos mundos autónomos e auto-suficientes, virados para o seu interior e fechados ao exterior por muralhas e portas; foram edifícios de grande complexidade que correspondiam a uma tipologia arquitectónica ditada pelas ordens religiosas. Era constituído por várias dependências necessárias à vida comunitária e à oração - igreja, sacristia, sala capitular, scriptorium, dormitórios, etc. -, distribuídas em três alas arquitectónicas, dispostas ao redor de um espaço quadrangular aberto (o jardim) e rodeado por galerias com arcos de volta inteira apoiados em colunas - o claustro - que ficava adossado ao lado sul da igreja, que o encerrava no fim e era o centro organizador do mosteiro. Possuía uma cuidada decoração escultórica, rica em contrastes de luz e sombra, o que dava ao local uma sensação de paz e recolhimento. Cada uma das alas do mosteiro tinha uma função específica: a que era perpendicular à igreja era chamada de ala dos monges pois continha a sacristia, a sala capitular, as "oficinas" e a escadaria que dava acesso ao dormitório, que ficava por cima destas dependências; na ala oposta à igreja, perpendicular à anterior, situava-se o refeitório, ladeado pelas cozinhas e despensas, o armazém e, por vezes, uma hospedaria; e a ala colada à igreja continha o mandatum, onde se lavavam os pés aos monges acolhidos como hóspedes na comunidade. Técnica e construtivamente, estes edifícios utilizaram as descobertas e invenções obtidas na tipologia anterior, apresentando praticamente todas as suas caracteristicas.

 

Mosteiro de Santa Maria de Armenteira, Espanha

 

Ruínas do Mosteiro de Fountains, Inglaterra



 Abadia cisterciense de Fontfroide, França, séc. XI

 

Mosteiro de San Cugat, Barcelona, Espanha

 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 22:21
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Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2009

A Arte Medieval - Arte Paleocristã e Bizantina; o Renascimento Carolíngio e Otoniano

 

"No decurso dos dez séculos (...) [sécs. V a XV - Idade Média], a Europa ganhou forma...  E foi então que nasceu e floresceu  uma arte propriamente europeia. Hoje admiramos o que dela resta. No entanto, não consideramos essas formas com o mesmo olhar que aqueles que primeiro as viram. Para nós, são obras de arte e delas esperamos apenas (...) um prazer estético. Para eles estes monumentos, estes objectos, estas imagens eram antes de mais nada funcionais. Serviam. (...) Desempenhavam três funções principais.

A maioria eram presentes oferecidos a Deus, para O louvar, dar-lhe graças, para obter em contrapartida a Sua indulgência e os Seus favores. (...) O essencial da criação artística desenvolvia-se então em torno do altar, do oratório, do túmulo. Esta função de sacrifício justificava que se dedicasse uma grande parte da riqueza produzida pelo trabalho dos homens a embelezar esses locais. (...)

Na sua maior parte, estes monumentos, estes objectos, estas imagens serviam também de mediadores, favorecendo a comunicação com o outro mundo (...). Estavam ali para tornar o ritual das liturgias numa correspondência mais estreita com as perfeições do Além (...), para guiar a meditação dos devotos, para conduzir-lhes o espírito per visibilia ad invisibilia, como diz São Paulo. Condescendentes, os homens de saber atribuíam-lhes, além disso, uma função pedagógica mais vulgar. (...)

Finalmente - e esta terceira função ligava-se com a primeira -, a obra de arte era uma afirmação de poder. Celebrava o poder de Deus, dos seus servidores, dos chefes de guerra, dos ricos. (...) Por isso, nas suas formas maiores, a criação artística, nessa época como em todos os tempos, desenvolvia-se nos lugares onde se concentravam o poder e os benefícios do poder."

 

Georges Duby, História Artística da Europa, A Idade Média, Tomo I, Quetzal Editores

 

 

 

 

 

Arte Paleocristã

 

- A Arte Paleocristã foi o conjunto de manifestações artísticas dos primeiros cristãos, que decorreram aproximadamente entre o ano 200 e o séc. VI da Era Cristã, correspondendo ao período de expansão do Cristianismo;

- A extraordinária dispersão geográfica desta arte forneceu-lhe uma grande diversidade regional, mas, no entanto, não impediu a subsistência de traços estruturais comuns:

  • a utilização dos modelos estilísticos da Roma clássica;
  • o uso de novas formas técnicas e estéticas oriundas das zonas periféricas do império, sobretudo das províncias do Oriente;
  • e a subordinação a um novo espírito e a uma nova temática: a do Cristianismo que impôs uma iconografia retirada das Sagradas Escrituras e um sentido doutrinal e pastoral às artes decorativas.

- Na arquitectura, a grande preocupação foi a procura de uma tipologia para o templo cristão, que adoptaria duas funções: ser a morada de Deus e recinto de culto e um local de encontro e reunião da comunidade dos fiéis, impondo assim novas exigências funcionais e de espaço;

- As primeiras igrejas da arte paleocristã obedeceram dois modelos principais: o de planta basilical, em cruz latina, com três ou cinco naves separadas por arcadas e/ou colunatas e cobertas por tectos de armação de madeira; e o de planta centrada, de influência helenística e oriental, com formas circulares, octogonais ou em cruz grega, e coberturas em cúpula e meias cúpulas. Em ambos os modelos sobressai a preocupação em destacar as linhas cruciformes (em forma de cruz), cuja simbologia se havia já começado a definir;

 

Aspecto da antiga Basílica de São Pedro do Vaticano, Roma, 324

 

Igreja de Santa Balbina

 

 

- Os baptistérios (edifícios sagrados destinados à celebração do baptismo), tal como os mausoléus (túmulos), adoptaram a planta centrada, com uma das portas orientada a leste e outra a poente, com enormes cúpulas sobre a sala central;

 


Mausoléu de Santa Constança, Roma, 354

 

 

- As primitivas igrejas cristãs eram exteriormente pobres e muito austeras e interiormente possuíam uma decoração pictórica, a fresco ou em mosaicos, de belas e vivas cores. O seu modelo mais característico foi o de planta basilical de três naves, que só se impôs como dominante a partir do séc. V, no Ocidente, influenciando toda a evolução artística seguinte, até ao Românico.

 

 

 

 

Arte Bizantina

 

- A cidade de Bizâncio (ex- Constantinopla), fundada por Constantino, tornou-se, nos primeiros séculos da Era Cristã, o centro de uma nova cultura, ao mesmo tempo que Roma sucumbia;

- Esta nova cultura, a Bizantina foi protagonista de um esplendor que teve origem no universo estilístico do Oriente. Foi aqui que se fundiram as correntes de pensamento do helenismo, do judaísmo e do cristianismo;

- A Arte Bizantina, herdeira de um passado rico, sintetizou as fontes estético-artísticas do Egipto;

- A arquitectura, tal como na arte Paleocristã, teve um lugar de destaque. Foi herdeira do arco, da abóbada e da cúpula, do plano centrado, de forma quadrada ou em cruz grega, com cúpula central e absides laterais; misturou assim estes elementos construtivos da arte romana com o clima místico das construções orientais;

- As construções, exteriormente, possuíam volumes irregulares que conferiam aos edifícios uma maior originalidade, e, interiormente, eram decoradas com mosaicos, pinturas a fresco, azulejos e colunas de inspiração grega e romana, embora um pouco modificadas;

- Foi no reinado de Justiniano, no séc. VI, que se definiu com grande clareza o estilo bizantino;

- Após um período conturbado (invasões, lutas internas), Bizâncio voltou a adquirir nova fase de magnificência, sob a dinastia macedónia. A arquitectura tornou-se mais complexa e abandonou a construção de cúpulas sobre pendentes, passando a edifica-las sobre um tambor cilíndrico. Devido aos problemas técnicos resultantes desta alteração, reduziram-se as suas dimensões, cobrindo-se as restantes áreas com abóbada de berço. A cúpula continuou mesmo assim a ser o sistema de cobertura preferido, sendo empregue em igrejas de planta em cruz grega.

 

O exterior da Igreja de Santa Sofia de Constantinopla ou Hagia Sophia (Sagrada Sabedoria), Turquia, séc. VI (note-se que os quatro minaretes que circundam a Igreja não pertencem à construção primitiva)

 

 Corte e planta da mesma igreja

 

 

 

 Arcos, cúpulas, abóbadas, mosaicos, colunas, pinturas a fresco nas paredes e tectos, azulejos - alguns elementos decorativos do interior da igreja

 

Igreja de São Vital de Ravena, Itália, séc. VI

 

Igreja dos Doze Apóstolos

 



Mausoléu de Gala Placídia, Ravena, Itália

 

 

 

 

Renascimento Carolíngio

 

- A cultura e a arte da Europa sofreram modificações com a queda do Império Romano do Ocidente e a entrada e fixação dos povos bárbaros (Visigodos, Ostrogodos, Francos, Saxões, entre outros);

- De entre todos estes povos foram os Francos os mais importantes para a Civilização europeia e os mais conhecidos, principalmente a partir do séc. VIII, quando Carlos Magno, primeiro como rei e depois como imperador, conseguiu unificar o seu poder e formou o Sacro Império Romano-Germânico. Para isso promoveu uma reforma litúrgica e o desenvolvimento da cultura e das artes - o Renascimento Carolíngio, que se prolongou até ao final do séc. X;

- Inspirada na tradição romana e nas influências bizantinas, a arte carolíngia foi humana, realista, figurativa e monumental;

- As construções possuíam exteriores maciços, pesados e severos e interiores ricamente decorados com pinturas murais, mosaicos e baixos-relevos;

- Algumas igrejas apresentavam uma construção acoplada que abria em tribuna para o interior (local onde o imperador assistia aos ofícios) e, exteriormente, funcionava como um pórtico, ladeado por duas torres;

- De todas as construções feitas neste período destacam-se: os palácios de Ingelheim e de Nimègue, a capela palatina de Aix-la-Chapelle (actual Aachen) que hoje se enconta bastante modificada exteriormente, a Igreja de Germigny-des-Près e o Mosteiro de São Gall, na Suiça, cujo projecto total é conhecido pela descrição num pergaminho.

 

 Os interiores ricamente decorados da Capela de Aix-la-Chapelle, Alemanha, séc. VIII

 

O pergaminho de São Gall - esta planta não corresponde totalmente à real construção

 

 

 

 

Renascimento Otoniano

 

- Em meados do séc. X, a Alemanha era governada por Otão I, que aproveitou a crise política que arrasava o Norte da Itália e de pequenos reinos vizinhos, para os conquistar. Assim nasceu o Império Germânico que, embora mais pequeno e frágil que o Sacro-Império de Carlos Magno, pretendia cumprir a mesma função;

- Tal como Carlos Magno, Otão procurou desenvolver a cultura e a arte - o Renascimento Otoniano, que se fez sentir entre 936 e 1024;

- Inspirou-se na tradição romana e na arte bizantina e carolíngia, mas criou um novo modelo, que será adoptado mais tarde pela arquitectura românica alemã: planta de dupla cabeceira e entradas laterais, com dois transeptos contrapostos, com tribuna e com torres nos cruzeiros e nos extremos dos transeptos;

- De todas as construções feitas neste período destacam-se principalmente: a Igreja de S. Miguel de Hildesheim, a de S. Ciríaco de Genrode e a Abadia de S. Jorge de Oberzell.

 

Igreja de S. Miguel de Hildesheim, Saxónia, c. 1010-1030

 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 19:53
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Sábado, 14 de Fevereiro de 2009

A Arte Medieval (Contexto político-social)

 

"Houve uma civilização saída do castelo, isto é, do domínio, logo nascida dos quadros rurais. Esta civilização dá origem à vida cortês, cujo próprio nome lhe indica a proveniência, porque ela nasceu de court, o pátio, isto é, da parte do castelo onde toda a gente se encontra.

O castelo feudal é orgão de defesa, lugar vital do domínio, asilo natural de toda a polpulação rural em caso de ataque, centro cultural, rico de tradições originais, separado de toda a influência antiga. É muito significativo que a esta cultura tenham sido ligados os termos cortês, cortesia; eles emanam de duma civilização que nada deve á cidade e evocam o que se propõe então como ideal em toda uma sociedade: um código de honra e uma espécie de ritual social que são os da cavalaria (...)."

 

Régine Pernoud, O Mito da Idade Média, Publicações Europa América

 

 

Iluminura que ilustra o modo de vida feudal: ao longe vesse o castelo fortificado do senhor feudal e da sua família; no plano intemédio e principal, as terras que circundam o castelo e os servos que nelas trabalham

 

 

  

O contexto político-social da Arte Medieval

 

- A Arte Medieval insere-se no período da História que normalmente chamamos Idade Média (sécs. V e XV da Era Cristã; começa com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, e termina com a tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos, em 1453), nascida do rescaldo das invasões germânicas e da desagregação das estruturas clássicas, sobretudo romanas;

- As guerras entre o mundo Romano e o Bárbaro-germano (sécs. V e VI) trouxeram grandes e importantes alterações estruturais: enfraqueceram a economia mercantil que, devido ás guerras e pilhagens constantes, se foi degradando e deu origem a uma economia de cariz agrário e auto-suficiente, isto é, subsistência da população por meio de trabalhos agrícolas; provocaram o declínio e redução dos centros urbanos, pois eram os maiores alvos dos ataques dos exércitos pela importância político-económica que possuíam e por isso a maior parte da população fugiu da cidade para o campo, transformando-se numa sociedade rural; desorganizaram a administração pública, fazendo desaparecer as antigas instituições herdadas do Império Romano e enfraquecendo os poderes centrais agora desprovidos de aparelho de Estado e exército permanente. Assim o poder político foi-se propagando em múltiplos poderes locais, arbitrários e em constante agitação; causaram uma profunda depressão demográfica, que se justifica pelo declínio da vida económica e material das populações, pelas guerras e ainda pelo clima de medo, insegurança e instabilidade que estas criaram; e provocaram ainda uma depressão cultural, pois durante as invasões e guerras, muitas cidades foram quase que completamente destruídas, perdendo-se, entre outras coisas, as suas escolas e bibliotecas e porque, devido à instabilidade e à insegurança, as viagens tornaram-se cada vez mais perigosas - assim isolados nas suas propriedades, no campo, as crianças e jovens deixaram de ir à escola e os hábitos de estudo e leitura foram abandonados. Deste modo a população retornou ao analfabetismo e a uma cultura popular, não escolarizada e não escrita, onde predominou a tradição oral;

- Todas estas alterações agravaram-se nos séculos seguintes, devido a novas invasões (muçulmanas, normandas, esclavas e magiares), à precariedade das subsistências, ao crescente barbarismo dos costumes, ao acentuar da ruralização da vida económico-cultural e à permanente instabilidade e insegurança;

- Estes factos explicam a instalação do feudalismo, a partir do séc. X, que acompanhou a formação de uma sociedade simultaneamente guerreira e rural, rude e cavaleiresca e se caracteriza pelo poder descentralizado (entregue ás mãos do senhor feudal), pela economia com base na agricultura e pela utilização do trabalho dos servos - os reis atribuíam terras aos senhores feudais e estes "contratavam" servos que tratavam delas, cultivando alimentos que serviam para a subsistência deles mesmos e dos seus senhores. Os servos pagavam ainda vários impostos aos senhores feudais pela sua habitação dentro das terras e pela protecção militar. Deste modo formou-se uma sociedade hierarquizada em que o Clero ocupava a posição máxima, seguido da Nobreza (os senhores feudais) e do povo, os servos;

- Neste pulverizado mundo feudal, violento, arcaico e rural, apenas uma única força se manteve em crescimento: o Cristianismo, cuja fé, levada em onda avassaladora das conversões em massa, representou um papel na formação e consolidação do feudalismo e foi um elemento aglutinador e ordenador de uma Europa dividida e decadente; inicialmente perseguida e clandestina, a religião cristã conheceu uma grande expansão durante os sécs. II e III, oficializando-se e transformando-se na religião única e oficial do Estado Romano (Concílio de Constantinopla de 381);

- Comparados aos juízes e magistrados romanos, os bispos do Baixo Império aproveitaram as estruturas administrativas centrais e locais, em decadência, e usaram o poder dessas instituições para congregarem e organizarem as comunidades de fiéis. Após a queda do Império Romano do Ocidente, foram os bispos, nas suas dioceses decalcadas pelas antigas circunscrições administrativas romanas, as únicas autoridades presentes e actuantes junto da população, neste tempo de crise;

- A acção da Igreja Cristã, durante toda a Alta Idade Média (sécs. V a IX), ultrapassou as obrigações religiosas, pastorais e doutrinais, exercendo em simultâneo um importante papel civilizacional, ao nível das técnicas agrícolas, da suavização dos costumes e da conservação e desenvolvimento das artes e das letras, tendo como principais focos difusores as igrejas e os mosteiros. Deste modo explica-se como a cultura medieval adquiriu um carácter religioso e doutrinal e como a arte foi influenciada por esse carácter, servindo como meio de difundir a própria religião e a sua doutrina;

- A partir do Ano Mil houve um conjunto de factores que contribuíram para a inversão do quadro depressivo  e para o fim da crise que atormentava a Europa desde o séc. V. No séc. XI, as invasões cessaram e internamente, ocorreu um abrandamento das guerras privadas, de carácter feudal. O fim das guerras e o consequente regresso à paz permitiram um ambiente social de maior estabilidade e segurança, favorável ao desenvolvimento das técnicas e utensilagens usadas na agricultura e registou-se um desenvolvimento económico que permitiu o reaparecimento da agricultura excedentária, o acelerar do crescimento demográfico, o renascer do comércio e a renovação cultural, bastante impulsionada por Carlos Magno, que se empenhou em fazer renascer as letras e as artes, criando na sua corte uma escola (a Aula Palatina), para a qual atraiu sábios de nomeada; fomentou o interesse pelos autores clássicos, gregos e principalmente romanos; e fundou ainda uma extrema biblioteca, espécie de fundo cultural permanente para a formação dos estudantes;

- Este clima de renovação e expansão foi aproveitado pela Igreja para uma reestruturação teológico-doutrinal, que acabasse com as heresias da Alta Idade Média e reforçasse o seu sentido pastoral junto dos fiéis : lançou o movimento da Trégua e da Paz de Deus (pretendia pôr cobro às guerras e violências praticadas pela aristocracia senhorial e feudal, protegendo os populares); construiu ou reconstruiu igrejas; incentivou as peregrinações aos lugares santos e organizou as cruzadas (expedições religioso-militares destinadas a libertar os lugares sagrados da Terra Santa do jugo do Islamismo; os seus participantes foram apelidados de "cruzados" pois usavam a cruz como distintivo);

- Muito importantes neste período foram os mosteiros, ligados ao fervor religioso da época e ao desejo de isolamento e de evasão do mundo profano, para uma entrega mais directa a Deus, através da meditação e da contemplação. Os primeiros impulsos foram dados individualmente; mas muito cedo os exemplos isolados criaram à sua volta grupos de discípulos, dispostos a seguir o exemplo do mestre - surgiram assim as primeiras comunidades de monges e monjas. A primeira obrigação destes é a do ofício divino (culto religioso) ao qual "nada se deve antepor", mas possuíam também outros deveres onde a oração estava a par do trabalho no scriptorium, nas variadíssimas oficinas, nos campos, entre outros;

- Os mosteiros foram centros de oração, meditação e ascese, mas também muito mais do que isso. Beneficiados pelas condições económicas, políticas e culturais da época que para eles canalizaram grandes riquezas, os mosteiros puderam transformar-se em centros dinamizadores da economia (difusores de novas técnicas e práticas agrícolas, incentivadores do artesanato e do comércio, etc.), em avançados centros de produção cultural teológica, nas letras e nas ciências e em escolas de nomeada, exercendo, assim um importante papel civilizacional na Idade Média.

 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 15:21
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Segunda-feira, 9 de Fevereiro de 2009

Os frescos de Pompeia

 

No dia 24 de Agosto de 79, as cidades de Pompeia, Herculano e Nápoles foram arrasadas pela erupção vulcânica do Vesúvio.

No século XVIII foram encontrados vestígios dessas mesmas três cidades romanas, em bastante bom estado de preservação devido ás cinzas vulcânicas, que as cobriram por completo.

 

Ruínas do fórum da cidade de Pompeia

 

Ruínas de Pompeia e o vulcão Vesúvio

 

 

Entre as entusiasmantes descobertas pictóricas encontram-se os fabulosos frescos que cobriam as paredes interiores da maior parte das habitações privadas e até de alguns edifícios públicos.

A partir destas pinturas foi possível distinguir quatro estilos na evolução cronológica das pinturas pompeianas:

  • Estilo de incrustação ou primeiro estilo (séc. II a.C.) – Estilo importado da Grécia e do Mediterrâneo Oriental. As paredes eram divididas em três sectores horizontais onde eram pintados, com cores vivas, falsos envasamentos de mármore, plintos imitando madeira e até elementos arquitectónicos fingidos;

 

 

  • Estilo arquitectónico ou segundo estilo (por volta de 80 a.C. até ao início da Era Cristã) – Possui influências helenísticas e está na sequência do estilo de incrustação, mantendo as três faixas horizontais de ordenação da parede. É caracterizado pela presença de elementos arquitectónicos pintados a partir do chão, que emolduram painéis com cenas mitológicas ou religiosas ou simulam janelas que se abrem sobre paisagens naturais. No nível superior, simulam-se frisos que deixam entrever o céu. Introduz ainda um efeito ilusório (aparente recuo ou desfundamento da parede por meio da perspectiva arquitectónica das cenas);



Pormenores do fresco do triclinium da Villa dos Mistérios, em Pompeia, séc. I a.C.

 

Frescos da Casa dos Vetti, Pompeia

 

 

 

  • Estilo ornamental ou terceiro estilo (pouco antes do início da Era Cristã) – Evolução do estilo anterior. Representação de elementos arquitectónicos, decorados com grinaldas e outros ornamentos vegetalistas e/ou naturalistas que se encontram pintados sobre fundos lisos e monocromáticos. Os painéis com cenas descritivas adoptam um menor tamanho e mostram cenas de inspiração oriental e africana. O efeito ilusório tende a suprimir a parede, através das cenas pintadas que parecem quadros pendurados no mesmo;

 

 

  •  

     

Publicado Por Cíntia Pontes às 19:13
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Quarta-feira, 4 de Fevereiro de 2009

A Coluna de Trajano

 

A Coluna de Trajano

 

 

A Coluna de Trajano pertence á tipologia da arquitectura comemorativa romana e pensa-se que tenha sido inspirada nos obeliscos egípcios. É um monumento urbanístico, simultaneamente arquitectura e escultura, que teve a função de assinalar um momento histórico, conferindo-lhe um carácter documental e honorífico.

Foi construída em 112-114, em Roma, no Fórum de Trajano, sobre o túmulo desse imperador, para comemorar a vitória dos Romanos contra os Dácios.

 

A Coluna de Trajano inserida no Fórum

 

 

A sua construção foi concebida e dirigida pelo arquitecto Apolodoro de Damasco e demonstra o espírito histórico e triunfalista dos Romanos que, de um modo original, glorificaram o seu imperador.

A coluna possui cerca de 37 metros. O seu fuste é oco - no interior existe uma escada em espiral, feita em mármore branco, que ascende até ao topo - e assenta sobre um tambor ou pedestal, de forma cúbica, também oco e decorado com relevos de troféus militares. Este tinha uma porta em bronze, no cima da qual existia uma inscrição dedicatória. Fazendo a transição entre o plinto e a coluna, existe um toro coberto de coroas de louro.

É decorada com um relevo historiado que se desenrola á volta da coluna e que conta os inúmeros acontecimentos das duas campanhas de Dácia, encobrindo ainda as 43 janelas que iluminam a escadaria interior. No topo da coluna existe um capitel dórico monumental, que era encimado por uma águia de bronze, símbolo do Império. Mais tarde foi substituída por uma estátua em bronze de Trajano e actualmente possui uma estátua de S. Pedro, colocada em 1588.

Pormenor do capitel da coluna e da estátua de S. Pedro que a encima

 

 

A narrativa da coluna é feita através de diversas cenas em mármore que descrevem aspectos geográficos, logísticos e políticos da campanha. Mas o que sobressai de toda a representação é a magnanimidade do imperador, que acolhe os vencidos com generosidade. O imperador é mostrado como o grande protagonista que dirige e orienta os trabalhos, intervém nas batalhas e acode nas situações complicadas.

 

 

Pormenor do relevo historiado da Coluna de Trajano

 

 

As cenas são realistas e tratadas de modo natural, sucedendo-se umas às outras, sem separações ou linhas divisórias. Esta narrativa apresenta um verdadeiro “horror ao vazio”, devido à sua densidade e grande número de personagens.

O escultor trabalhou habilmente este relevo em friso com uma pequena profundidade no talhe, para que os efeitos de luz e sombra não prejudicassem a leitura das cenas quando vistas de baixo.

O relevo desta coluna é considerado uma das obras mais ambiciosas do mundo antigo, sendo muito maior e mais perfeccionista que o friso das Panateneias do Templo do Pártenon.


 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 09:30
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Segunda-feira, 2 de Fevereiro de 2009

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Romana (Continuação)

 

PINTURA

 

Fresco de uma casa de Herculano

 

 

- A pintura é uma das formas artísticas que melhor documenta o modo de vida e de ser dos Romanos;

- Sofreu grande influência dos Etruscos que decoravam as paredes dos templos, dos túmulos e, mais tarde, das suas casas , construídos em madeira ou terracota, com pinturas a fresco. Deles herdaram a enorme vivacidade narrativa, o grande sentido da realidade e a carga expressiva, linear e vigorosa; da arte egípcia, principalmente no retrato; e da arte grega;

 

Pinturas a fresco das paredes de uma casa em Pompeia

 

 

- Dividiu-se em duas tipologias diferentes: a pintura mural, feita a fresco, que revestia as paredes interiores dos edifícios; e a pintura móvel, realizada a encáustica (técnica pictórica que se aplica sobre suportes de madeira, marfim, pedra ou metal, em que o aglutinante dos pigmentos de cor é a cera quente, diluída), geralmente sobre painéis de madeira;

- As principais características da pintura romana foram o realismo, o naturalismo, a atenção ao pormenor e ao detalhe, a noção de perspectiva conseguida; os belíssimos contrastes de claro-escuro e as composições plenas de vivacidade, delicadeza e harmonia;

- Abordou uma temática variadíssima:

  • Pintura triunfal - incidia sobre cenas históricas como batalhas e episódios políticos e militares; possuia funções políticas, documentais e comemorativas; semelhante ao relevo, recorre à narrativa contínua, onde a figura principal é repetida e as secundárias são colocadas lado a lado; a representação é exacta, quer em pormenores, quer nas inscrições que identificam os protagonistas;

"Bodas Aldobrandinas", as núpcias de Alexandre Magno com a princesa Roxana, fresco encontrado numa casa romana do monte Esquilino

 

  • Pintura mitológica - incidia sobre os mitos e mistérios da vida dos deuses e na representação das suas figuras; possuíam composições muito fantasistas e imaginativas e ricas em personagens e colorido;

Perseu libertando Andrómeda, fresco de Pompeia

 

Ménade

 

Pintura a fresco de carácter mitológico, encontrado na Basílica de Herculano

 

 

  • Pintura de paisagem - inspirava-se directamente na Natureza e revestia-se de um grande sentido poético e bucólico; a representação era tanto sonhadora e fantasista como podia ser fiel ao observado, não perdendo, contudo, a sua poesia;

 

Pinturas a fresco da Villa Lívia, em Primaporta, 20 a.C.

 

Pintura a fresco de uma paisagem idealizada

 

  • Naturezas-mortas e cenas de género (da vida quotidiana) - pequenas obras-primas plenas de realismo nas formas, cores e brilhos e de grande atenção ao detalhe;

Natureza-morta com frutas e jarra

 

Natureza-morta com pássaro

 

Natureza-morta com pêssegos e jarra

 

 

Cena de género

 

  • Retratos - muito abundantes nas casas dos romanos e feitos a fresco nas paredes ou pintadas a encáustica sobre painéis de madeira ou metal; eram admiráveis pelo verismo quase fotográfico e pela sugestão psicológica que provocam no espectador.

Retratos romanos

 

"A Poetisa"

 

"O Padeiro Páquio Próculo e sua mulher"

 

 

- A pintura foi utilizada, desde a República, em edifícios públicos (basílicas, termas), religiosos (templos, túmulos), oficiais (mansões, palácios) e privados (lares de abastados funcionários, mercadores e comerciantes de Pompeia), revestindo as paredes de várias divisões, tornando os espaços muito mais aprazíveis e acolhedores.

 

 Pinturas a fresco das paredes das termas de Pompeia

 

 


MOSAICO

 

- Intimamente ligado á pintura, o mosaico vai buscar a essa arte o estilo e o colorido;

- Era feito com pequenas tesselas de materiais coloridos como mármores, pedras várias e vidro, aplicadas sobre a argamassa fresca que cobria variadíssimos locais de suporte - no início apenas o chão e depois também as paredes exteriores e interiores e os tectos de pequenas cúpulas;

- Os seus temas foram os mesmos da pintura romana e desenvolveram-se em composições figurativas: episódios mitológicos, cenas de caça, jogos, cenas de género, naturezas-mortas e, por vezes, passagens humorísticas, com particular evidência para cenas em trompe-l'oeil (ilusão de perspectiva);

- A mais típica decoração em mosaico data dos sécs. II e II a.C. e é formada por uma espécie de "tapetes" que cobrem parcial ou totalmente o chão de algumas divisões, com composições complexas de motivos geométricos que serviam de moldura a pequenos motivos figurativos como pessoas, animais e deuses;

- Atingiu o seu apogeu no séc. IV, sendo posteriormente continuado nas artes paleocristã e bizantina.

 

Mosaicos romanos da cidade de Pompeia

 

"Cave Canem", mosaico-tapete de uma casa de Pompeia

 

 Mosaico de carácter mitológico representando a Deusa Diana, encontrado na antiga cidade romana de Volubilis, Marrocos

 

Mosaicos encontrados na Casa de Menandro, em Pompeia

 

Mosaico da "Batalha de Isso" e pormenor da cabeça de Alexandre Magno, respectivamente

 

 Mosaicos decorativos da Casa dos Repuxos em Conímbriga, Portugal

 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 16:38
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Domingo, 1 de Fevereiro de 2009

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Romana (Continuação)

 

ESCULTURA

 

- A escultura romana revela características realistas, centradas na personalidade do indivíduo, com influências da arte etrusca e da arte grega do período clássico e, principalmente, helenístico, porque os Romanos preferiram o realismo emocional da representação à perfeição idealizada e quase "sagrada", pois aquele estava mais de acordo com o seu espírito prático e pragmático;

- Mais realista que idealista, a estatuária romana teve o seu maior êxito nos retratos, normalmente em forma de busto. Reproduziam exactamente o modelo, acentuando até os “defeitos”, as “disformidades” e as características fisionómicas dos olhos, das sobrancelhas, da boca, barba e cabelo, bem como marcas do tempo e do sofrimento humanos. Deste modo a escultura romana conseguiu atingir o seu propósito: eternizar a memória dos homens através de imagens reais que evidenciavam o carácter, a honra, a glória e a psicologia do retratado, com um carácter quase fotográfico;

- No séc. I a.C., durante o governo de Octávio César Augusto, o retrato começa a sofrer mudanças e a mostrar nítidas influências do ideal grego, sobretudo no retrato oficial: visto que os imperadores se tornavam deuses após a morte, os seus retratos e estátuas apresentavam-no de um modo mais classizante, mais idealizado e mais divino, mas por outro lado também mais grave, para ser admirado, respeitado e honrado; as figuras adquiriram uma pose mais triunfal, majestosa e bela, embora, algumas partes do corpo, principalmente a cabeça, continuassem plenas de verismo, mostrando as feições naturais do representado. Feitos em materiais como a pedra e o bronze e cunhados em moedas, os retratos foram o espelho do poder imperial e um elemento de unificação do território, pois os retratos do imperador chegavam a todas as partes do império;
- A época do Alto Império ficou marcada pela grande produção escultórica e pelo facto de, pela primeira vez, se poder falar em consumo privado de Arte e no gosto pela obra de arte em si mesma, desenvolvendo-se a paixão pelo coleccionismo, bastante "banal" nos tempos de hoje;

- A decadência do império (sécs. IV e V d.C.) correspondeu a uma fase de simplificação na escultura: as figuras começaram a apresentar uma grande influência da estética oriental, com o seu frontalismo e hieratismo e feições mais abstractas e simplificadas, principalmente no retrato; houve também uma perda progressiva da noção de perspectiva e profundidade. O Cristianismo também marcou esta fase com o seu esquematismo e simbolismo da figuração, pois os seus conceitos de imortal e espiritual, converteram a representação humana em símbolos; deste modo o retrato oficial perdeu a sua carga de individualidade;

- Dividiu-se em três tipologias:

  • As estátuas e as estátuas equestres, que possuíam funções públicas - documentais, celebradoras, comemorativas e, por vezes, decorativas - e eram plenas de verismo e um certo idealismo. Em qualquer uma delas sobressai principalmente o retrato propriamente dito, que se pauta por um grande realismo, não descurando a fisionomia do rosto e enfatizando a descrição da personalidade do representado sobretudo nos olhos e na expressão do olhar. Os romanos fizeram também cópias de muitas estátuas gregas, pelo grande encanto e admiração que tinham por elas;

Estátua-retrato de Augusto de Prima Porta, séc. I a.C e a estátua do patricío Barberini, 30 a.C, respectivamente

 


Pormenor da estátua-retrato de Augusto como Pontífice Máximo

 

 

 

Busto de Marco Aurélio, de Brutus Capitolino e de Júlio César, respectivamente

 

 Estátua de Dionísio, cópia romana de uma obra grega

 

Estátua equestre em bronze de Marco Aurélio, séc. II d.C.

 

 

Fragmentos da estátua colossal de Constantino

 

  • Os relevos, que tinham funções ornamentais, comemorativas e narrativas ou históricas e recorreram a algumas técnicas usadas na pintura: conseguiram obter profundidade e efeitos de perspectiva através da gradação dos planos, em conjunto com diferentes tipos de relevo (alto, médio e baixo, até ao esmagamento) e utilizaram a figura em escorço, principalmente nas cenas militares, de modo a transmitirem a noção de esforço e sofrimento. A narração decorria em cenas contínuas onde a figura principal se encontra repetida, as figuras secundárias dispostas lado a lado e as restantes colocadas em planos mais recuados. As figuras eram produzidas de modo fidedigno e demonstravam o grande gosto dos romanos pela representação minuciosa e verista. 

Pormenor de um dos relevos do Arco de Tito

 

 

Relevos do Ara Pacis, altar da paz

 

Detalhe do relevo romano "Marco Aurélio e os bárbaros", séc. II d.C.

 

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 22:31
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Segunda-feira, 26 de Janeiro de 2009

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Romana

 

ARQUITECTURA


- De todas as formas da arte romana, é a arquitectura que melhor testemunha o génio inventivo e prático de Roma e que melhor documenta a sua evolução histórico-social;

- A arte romana sofreu duas fortes influências: da arte ítalo-etrusca, popular, voltada para a expressão da realidade vivida e reveladora de um povo alegre e amante da vida, e da arte greco-helenística, orientada para a expressão de um ideal de beleza; dos etruscos herdaram vários conhecimentos e técnicas tais como: a utilização do arco e da abóbada; a construção de cidades muralhadas com traçado rectilíneo das ruas; a realização de pontes, túneis, esgotos e estradas; a edificação de templos com pódio, pórtico com colunas de madeira, telhados de duas águas e beiral, cella, proporções quase quadradas e paredes de tijolo cru; e a produção de túmulos de várias formas, cujas características se assemelhavam ás casas dos vivos. Aos gregos foram buscar as concepções clássicas dos estilos jónico, dórico e coríntio, aos quais associaram novos estilos, como o toscano e o compósito, que aplicaram na decoração arquitectónica; imitaram as plantas dos templos rectangulares e circulares na construção de basílicas e outros edifícios como os teatros e a domus, cuja concepção parte do peristilo grego, transformando-o um núcleo residencial; o urbanismo romano também adquiriu influências gregas, pois a partir da acrópole e da ágora gregas, os Romanos passaram ao Capitólio e ao fórum de Roma.

 

Muralha Serviana, Roma, séc. IV a.C.

 

Muralha de Adriano, Grã-Bretanha

 

 

- Pragmática, funcional, colossal e magnificente, a arquitectura romana preocupou-se essencialmente com a resolução dos aspectos práticos e técnicos da arte de construir, respondendo com soluções criativas e inovadoras ás crescentes necessidades demográficas, económicas, políticas e culturais da cidade e do império;

- Nas suas construções os Romanos usaram materiais tradicionais como a pedra, o tijolo, a mármore e a madeira, e outros, mais económicos e fáceis de trabalhar, criados ou recriados por eles de forma inovadora - falamos dos diferentes tipos de opus (termo usado pelos romanos para designar o material ou o tipo de organização dada ao material empregue numa construção. Distinguem-se vários tipos: opus incertum, que usa pedras pequenas e irregulares unidas por argamassa; opus recticulatum, semelhante ao anterior mas com revestimento exterior regular, feito com pequenas pirâmides de calcário cunhadas na parede com a base para fora; opus quadratum, que usa silhares de pedra aparelhada, sobrepostos sem argamassa, cuja coesão é garantida pala colocação de grampos metálicos; opus testaceum, constituído por ladrilhos cozidos dispostos de modo a fazer desenhos quadrados ou triangulares; e opus caementicium), dos quais o mais importante foi o opus caementicium, uma espécie de argamassa de cal e areia, a que se adicionavam pequenos pedaços calcário, pozolana (material de origem vulcânica), cascalho e restos de materiais cerâmicos, que criava uma pasta moldável enquanto húmida, semelhante ao actual cimento ou betão que, depois de seca, se igualava à pedra na solidez e na consistência. A sua utilização desde o séc. IV a.C, facilitou e tornou mais rápida e económica a construção de estruturas complicadas como as coberturas abobadadas ou cupuladas e ainda as paredes arredondadas e em abside; o emprego deste material obrigou ao uso de vários paramentos (revestimento exterior) que disfarçassem o aspecto final pouco decorativo das estruturas. Deste modo, os Romanos inventaram diferentes almofadados em pedra e tijolo e aplicaram revestimentos exteriores com relevos em estuque, placas de mármore policromo ou ladrilhos cozidos. Nos interiores, o revestimento era feito com pedras nobres, mármores, mosaicos e estuques pintados;

- Criaram novos sistemas construtivos, que tiveram como base o arco e as construções que dele derivam: os diferentes tipos de abóbadas, as cúpulas e as arcadas (conjunto de colunas unidas superiormente por arcos).  Na verdade estas estruturas não foram inventadas pelos Romanos pois já haviam sido usadas pelos Etruscos e os próprios gregos conheciam o arco, embora nunca o tenham usado. Contudo, nenhum destes povos soube aplicar estes sistemas com tanta perícia técnica e com tanta eficácia e inteligência arquitectónica. A sua utilização, aliada aos novos materiais, permitiu aos Romanos criar variadas tipologias arquitectónicas, diversificar as plantas, projectar compartimentos mais amplos e articular melhor os espaços interiores;

- Desenvolveram as técnicas e os instrumentos de engenharia, assumindo-a como o suporte da arquitectura e atribuindo-lhe, pela primeira vez, uma base científica; realizaram neste campo grandes progressos: aperfeiçoamento dos conhecimentos de orografia e topografia; uso de técnicas de terraplenagem (acto de nivelar os terrenos de modo a prepará-los para a execução da obra); desenvolvimento de processos de embasamento e de suporte; invenção de cofragens (dispositivo amovível de madeira destinado a conter as massas de betão fresco nas formas projectadas; espécie de molde) e cimbres (armação de madeira que suporta e/ou molda os arcos ou abóbadas), que serviram para montar e moldar as estruturas construtivas, economizando assim a mão-de-obra e o tempo da construção; utilização dos grampos de metal para fortalecer as juntas entre os blocos de pedra ou nas zonas de maior pressão dos edifícios.

- A decoração utilizada pelos Romanos pautou-se pelo barroquismo (acto de complicar as formas e os elementos decorativos pela profusão e exagero dos mesmos), que preferiram o exagero ornamental ao equilibrado sentido estético e simples dos Gregos; utilizaram os elementos gregos tais como colunas, entablamentos e frontões, como meras "peças"decorativas, sem qualquer função estrutural, inovando-as ao alterarem as suas formas e proporções; criaram ainda duas novas ordens: a toscana (capitel simples, semelhante ao estilo dórico) e a compósita (junção da ordem jónica e da coríntia; o capitel é decorado com volutas e folhas de acanto).

 

 

 

» Arquitectura religiosa

 

- Desempenhou funções religiosas, políticas e sociais e encontra-se largamente representada entre as construções romanas;

- Os edifícios religiosos assinalavam, pelo seu valor sagrado e simbólico, os lugares mais importantes das cidades. Entre eles destacavam-se os simples altares (uma espécie de pequenos templos erguidos sobre um pódio e fechados a toda a volta por um muro, decorado com relevos, e só interrompido pela escadaria frontal; o interior é descoberto e composto por um altar, elevado sobre um pedestal de mármore; possuíam um carácter comemorativo), os santuários e os templos, destinados ao culto dos imperadores (divinzados após a morte) e aos Deuses;

 

Altar da Paz (Ara Pacis), Ano 13 a.C., Roma - vista frontal, lateral e traseira e alguns dos seus frisos, respectivamente

 

 

- Os templos romanos do período republicano apresentavam algumas características comuns a todos eles: erguiam-se sobre um estrado em pedra maciça, denominado pódio; possuíam um carácter frontal, com a fachada assinalada pelo pórtico e pela escadaria de acesso ao templo; tinham geralmente uma planta rectangular (tendo existido também, templos de planta circular), apenas uma cella e na maioria das vezes não tinham peristilo, pois as colunas laterais se encontravam embebidas ou adossadas ás paredes exteriores da cella; as colunas e o entablamento eram uma imitação grega, seguindo uma das ordens clássicas, mas possuíam apenas uma função decorativa;

- Mais grandiosos eram os santuários, constituídos por vastos recintos abertos para a paisagem, construídos como amplos anfiteatros rodeados de arcadas, atrás das quais havia templos, alojamentos para sacerdotes e crentes, lojas e outras dependências.

 

Templo de Vesta, Roma, séc. I a.C

 

Templo coríntio, Maison Carré, Ano 16 a.C., Roma

 

Templo- Santuário de Júpiter, Líbano, séc. I d.C.

 

 Templo de Diana, Évora

 

 

Panteão de Roma, mandado construir pelo imperador Adriano, para honrar os Deuses da Terra e do Céu, visando a unidade e a fusão de todas as doutrinas religiosas e diversos Deuses que cada povo conquistado por Roma tinha: vista frontal (fig. 1), vista traseira (fig.2), vista lateral das colunas que rodeam o portico (fig.3), a entrada (fig.4 e 5), os interiores (figs. 6, 7, 8, 9, 10 e 11) e a sua planta (fig. 12)

 

 

 

 

» Obras públicas

 

- As construções públicas foram o tipo de arquitectura em que os Romanos melhor expressaram o seu engenho técnico e originalidade, mas também as que melhor traduzem o desejo de poder e de grandeza deste povo;

- Abundantes desde o período da República, estas obras foram essenciais durante o Império, devido à enorme expansão territorial e ao crescente aumento demográfico. Foram poucos os imperadores que não deixaram o seu nome ligado a um grande melhoramento público, útil para o povo ou para o embelezamento da cidade;

- Durante o período da República salienta-se a construção de obras com carácter prático e utilitário como as estradas, as pontes e sobretudo os aquedutos, essenciais ao abastecimento de água às cidades e às termas;

 

 

Estrada romana em Pompeia

 

Estrada romana em Argoncilhe, Santa Maria da Feira

 

 Aqueduto e Ponte do gard, França, final do séc. I a.C.

 

 Ponte de Segura, Castelo Branco

 


Aqueduto romano em Espanha

 

Ponte romana em Chaves

 

 Ponte de Alcantara, Espanha

 

 Aqueduto romano na Tunísia

 

 

- O período imperial, por sua vez, deu ênfase a construções mais grandiosas e imponentes destinadas à vida pública, cada vez mais complexa, ou ao lazer e divertimento da população (embora muitas destas construções já existissem durante a República). Destas salientam-se:

  • As basílicas, construidas com coberturas em abóbadas de arestas e com cúpulas e semicúpulas sobre as absides laterais, que permitiam criar compartimentos interiores mais amplos e iluminados, que abrigassem um grande número de pessoas. Tinham como principais funções albergar tribunais, cúrias e outras repartições públicas, como termas, mercados, bolsas de mercadores e palácios imperiais;

Ruínas da Basílica de Maxêncio ou Constantino, Roma, séc. IV

 

Ruínas da Basílica Emília, período republicano

 

 

  • Os anfiteatros, construções mais populares da arquitectura romana do lazer, exerceram um importante papel sócio-recreativo. Possuíam planta circular ou elíptica, sem cobertura e tinham vários andares (geralmente três ou quatro), sustentando-se a si proprios, graças aos complexos sistemas de abóbadas radiais e concêntricas, que suportavam as galerias sob as bancadas e a própria arena; a parede exterior, circular, ostentava três níveis de arcos, ladeados por colunas adossadas com ordens diferentes em cada andar, separados por entablamentos e encimados por um ático sem arcadas, mas com pilastras adossadas;

 Anfiteatro Flávio, mais conhecido como Coliseu de Roma, séc. I

 

 

  • Os teatros, semelhantes aos anfiteatros na forma e na decoração exterior, mas de menor porte; apresentavam influências gregas na construção; não precisavam de locais apropriados para se erguerem porque graças aos sistemas construtivos romanos, sustentavam-se a si próprias; embora fossem ao ar livre, eram fechados em torno de si mesmos, porque as paredes da cávea (estrutura onde, segundo a escala social, se sentavam os espectadores), em anfiteatro, uniam-se à cena. A orquestra era semicircular e a cena, mais elaborada, possuia vários andares colunados até à altura da última bancada; é ainda de salientar que os primeiros teatros romanos, construidos até finais da república, tinham um carácter bastante efémero: eram feitos em madeira e demolidos logo após o acontecimento para o qual tinham sido construidos;

 

Teatro de Marcelo, Roma, séc. I a.C.

 

  • As termas, que mais do que simples balneários públicos, tornaram-se importantes locais de encontro e convívio social e símbolos do poder político. Continham piscinas de água quente e fria, saunas, ginásios, estádios, hipódromos, salas de reunião, bibliotecas, teatros, lojas e amplos espaços verdes, ao ar livre. Devido a todas estas funções, eram construções de escala monumental e pautavam-se pelo apurado sentido de ordem e simetria das suas plantas, pela estruturação dinâmica e funcional dos seus interiores, pela conjugação harmoniosa das várias volumetrias, pelas arrojadas coberturas abobadadas ou cupuladas e ainda pela belissima articulação entre interiores e exteriores. Ostentavam uma rica decoração, com revestimentos a mármore policromo, belas composições de mosaicos, pinturas em estuque e muita estatuária artística.


Ruínas das termas de Carcala em Roma e um dos seus mosaicos decorativos

 

 Mármores policromos decorativos das termas de Saragoça, Espanha

 

Decoração das termas romanas com pinturas em estuque

 

Termas romanas em Espanha

 

 

 

» Arquitectura privada

 

- Menos imponente que as demais obras romanas, mas igualmente genial, foi a arquitectura privada bastante usada pelos Romanos, que possui duas tipologias distintas:

  • A domus, o lar tradicional dos Romanos, a casa unifamiliar e privada; eram feitas em tijolo e ladrilho cozido, apresentando um aspecto exterior modesto; geralmente possuia apenas um piso ou dois e tinha um telhado ligeiramente inclinado para o interior, coberto com telhas de cerâmica; não possuia aberturas para o exterior, excepto a porta principal e , por vezes, uma outra nas traseiras; as dependências internas organizavam-se em torno de um ou dois pátios interiores (o atrium e o peristilo), pelos quais se fazia a iluminação e ventilação da casa e a circulação das pessoas; a decoração interior baseava-se nos pavimentos de mármore policromo ou de mosaicos, e nos belissimos estuques pintados das paredes das divisões nobres (triclinium, sala de jantar e tablinum, escritório ou sala de estar). As famílias mais abastadas possuíam variantes maiores e muito mais luxuosas do modelo acabado de descrever, rodeadas de grandes e belos jardins, as villae ou  villas, moradias construídas, muitas vezes, fora da cidade, num arredor rural aprazível e surpreedente; os imperadores e suas famílias mandaram construir villas grandiosas (os palácios imperiais), verdadeiras cortes que albergavam uma numerosa criadagem, as milícias militares e as comitivas políticas;

 

 

1. Vestíbulo; 2. Átrio; 3. Impluvium (Tanque para recolha das águas da chuva); 4. Alas laterais do átrio; 5. Tablinum; 6. Triclinium; 7. Cozinha; 8. Quartos; 9. Lojas;                 10. Peristilo

 

Vista exterior de uma Domus Romana e a sua respectiva planta

 

Átrio de uma domus romana

 

Ruínas da Domus Augusteana 

 

Ruínas da Domus Aurea (palácio imperial do imperador Nero) e uma das suas pinturas a fresco decorativas

 

Ruínas do peristilo da Casa dos Vetti, Pompeia

 

Mosaicos e pinturas a fresco da Villa del Casale

 

 

 

Villa Adriana, "obra" do imperador filósofo e grande viajante, Adriano, que fez desta villa uma espécie de museu, repleto de réplicas das construções e dos locais qua mais o haviam impressionado, feitas à escala humana, mas colocados no terreno de modo imaginativo e sem qualquer submissão á axialidade: o palácio imperial (fig. 1), a hospitalia (alojamento dos soldados da guarda pretoriana fig. 2 e 3), as termas e um dos seus mosaicos decorativos (figs. 4 e 5), o Canopo (pequeno lago que simboliza um antigo canal que ligava as duas cidades egípcias de Alexandria e de Canopo - figs. 6 e 7), o teatro Marítimo (fig. 8), o ginásio (fig. 9)

 

 

  • As insulae, autênticos prédios urbanos para rendimento, que alojavam as famílias mais pobres; tinham em média três ou quarto andares, mas muitas delas atingiram os oito pisos. O rés-do-chão era geralmente recuado e utilizado para lojas, abertas para a rua. Assemelhavam-se a autênticas colmeias humanas e eram construídas com os materiais mais económicos como o tijolo, a madeira e a taipa. Levantaram grandes e graves problemas urbanísticos tais como o abastecimento de água, os esgotos, o mau isolamento acústico e térmico, o exagerado número de andares, a higiene e as normas de segurança, devido aos frequentes incêndios e às escadas de acesso, íngremes e apertadas, que dificultavam as evacuações. Apesar de tudo isto, estas construções apresentam um grande interesse, nomeadamente em relação: à técnica usada para a construção em altura; à preocupação funcional da planta, com os apartamentos com acesso, em galeria, ao pátio central, aberto desde o rés-do-chão; ao tratamento das fachadas não revestidas, onde se rasgavam fileiras simétricas de janelas, numa antecipação de estilos vindouros.

 

 

 

» Arquitectura comemorativa

 

- O espírito histórico e triunfalista dos Romanos levou-os a produzirem obras com fins comemorativos e que assinalassem, pela sua presença evocativa, as conquistas militares e políticas dos grandes oficiais e dos imperadores. Dentro desta arquitectura salientam-se duas tipologias: as colunas honoríficas e os arcos de triunfo, que eram ambos ricamente decorados com baixos e altos-relevos e estátuas ou esculturas alegóricas e/ou honoríficas. A sua colocação fazia-se, geralmente, a meio das vias importantes ou nas entradas e saídas dos fóruns, embora, por vezes, estivessem adossadas ás portas das muralhas das cidades, a pórticos e aquedutos.

 

Arco de triunfo de Septímio Severo

 

Arco de triunfo de Tito

 

 Arco de triunfo de Constantino

 

Coluna de Trajano

 

  

Publicado Por Cíntia Pontes às 19:32
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Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Romana (Contexto político-social)

 

 

" O Império Romano é a civilização helenística, nas mãos  brutais de um aparelho de Estado de origem italiana. Em Roma, a civilização, a cultura, a arte e a própria religião são quase completamente oriundos dos Gregos, ao longo de meio milénio de aculturação; desde a sua fundação, Roma, poderosa cidade etrusca, não era menos helenizada que as outras cidades da Etrúria. Se o alto aparelho de Estado, Imperador e Senado, permaneceram, no essencial, estranhos ao helenismo, em contrapartida, o segundo nível institucional, o da vida municipal (o Império Romano formava um corpo cujo células vivas eram milhares de cidades autónomas), era inteiramente grego. Desde o século II antes da nossa era, a vida de uma cidade do Ocidente latino era idêntica à de uma cidade da metade oriental do império. E, fundamentalmente, era esta vida municipal, completamente helenizada, que servia de quadro á vida privada [e quotidiana].

Roma é um povo que teve por cultura a de outro povo, a Grécia. A vontade de poder da classe dirigente romana era tão grande que se apoderava dos valores estrangeiros como se de um despojo de guerra se tratasse; nunca receou perder a sua identidade nacional, nem despojar-se da sua herança cultural; não foi xenófoba nem integrista. É por tais traços que os grandes povos se reconhecem. "

 

Paul Veyne em: Phillippe Ariès e Georges Duby (dir. de), História da Vida Privada, Do Império Romano ao Ano Mil, Vol. I, Ed. Afrontamento

 

 

 

 

O contexto político-social da Arte Romana

 

- Quando se pensa na Roma da Antiguidade Clássica, vem-nos á memória:

  • a vastidão do seu Império;
  • o poder autocrático, centralizado e divino dos seus imperadores;
  • a modernização do seu sistema jurídico, que foi durante séculos a principal fonte de organização administrativa e judicial da Igreja e dos estados europeus;
  • a meticulosa e disciplinada organização das suas legiões que conquistaram o mundo;
  • o ecletismo da sua cultura, da matriz helenística, associada a uma síntese original de influências múltiplas;
  • o mundanismo das suas elites sociais, em contraste com o esclavagismo (estrato social da Antiga Roma a que pertenciam os homens livres, não-nobres e com menores posses económicas) e as duras condições de vida da plebe (estrato social mais pobre, os escravos);
  • a superioridade da sua civilização material que rasgou estradas, construiu cidades, levantou pontes e aquedutos, desbravou florestas, arroteou campos e fundou indústrias, escolarizou e pacificou, numa gigantesca tarefa civilizacional a que modestamente demos o nome de romanização (acto de aculturação exercido por Roma sobre os diferentes povos do seu império).

- Fruto de uma longa evolução, estas características atingiram o seu auge entre meados do séc. I a.C. e meados do séc. I d.C., a época de ouro da Civilização Romana. Esse período coincide em grande parte com o governo de Octávio César Augusto, cuja acção se manifestou a vários níveis:

  • no plano militar - restabeleceu a ordem e a disciplina após a anarquia e guerra civil dos últimos tempos da República; prossegui com as conquistas e pacificou as províncias, estendendo sobre elas a pax romana;
  • no plano político - reformou o aparelho administrativo central e provincial, reforçando os poderes do imperador ao criar novos órgãos de apoio (Conselho Imperial, Guarda Pretoriana e novo corpo de funcionários dele dependente) e reduzindo os poderes do Senado, das magistraturas e dos comícios;
  • no plano social - apaziguou as lutas sociais, reordenando a população com base na igualdade (teórica) perante a lei, para os cidadãos livres, e fazendo recair sobre o montante do imposto pago (censo que Augusto tornou obrigatório) a possibilidade de se ser eleito para os cargos públicos e políticos, como o Senado e magistraturas. Com estas medidas, garantiu a coesão do corpo social, hierarquizando-o;
  • no plano cultural - usou a prosperidade económica para proteger poetas, escritores, historiadores, intelectuais e artistas, atraindo-os á sua corte e subsidiando as suas obras (início do mecenatismo, actividade cujo nome deriva de um dos mais fiéis conselheiros de Augusto - Mecenas); patrocinou numerosas obras públicas como estradas, aquedutos, pontes e termas; muniu-se de arquitectos e artesãos gregos para reformar ou construir templos, teatros, mausoléus, arcos do triunfo, entre outros e ainda para rasgar um novo fórum dedicado a ele - o Forum Augustum; construi e equipou bibliotecas públicas e fundou escolas;
  • no plano religioso - preocupou-se em restabelecer a religião tradicional, ligando-a ao culto do Imperador de Roma. Esta deposição do poder religioso nas suas mãos permitiu-lhe fiscalizar os sacerdotes e obter a capacidade de interpretar as vontades dos deuses.

- Roma, uma humilde aldeia, surgiu como cidade no séc. VIII a.C. com a união dos Latinos do Monte Palatino aos Sabinos do Monte Quirinal, formando um núcleo urbano forte. Desde aí e até ao séc. IV a.C. o seu crescimento acompanhou o crescimento político e económico do seu povo e a prodigiosa construção do gigantesco império, do qual Roma foi o centro. Dominando, pela sua posição central, o Mediterrâneo, Roma tornou-se o ponto de partida e de chegada das rotas terrestres e marítimas que uniam todas as partes do Império, possibilitando a circulação e intercâmbio de gentes, produtos e notícias veiculadas por políticos, soldados, comerciantes, colonos, escritores, artistas, entre outros. Por todas estas razões o Estado Romano teve sempre grande preocupação com a qualidade de vida da cidade e do seu espaço físico, rasgando vias e praças, construindo aquedutos para o abastecimento  de água, estabelecendo regras construtivas para os edifícios civis e públicos e embelezando-a com monumentos e peças de estatuária que lhe dessem a imponência e o fausto necessários ao poder e ao domínio que a cidade exercia.

- Capital de tão vasto império, a Urbe ou cidade (de Roma), cresceu de uma forma cosmopolita, sendo um exemplo para inúmeras cidades do império, em todas as regiões ou provincias, a nível administrativo e civilizacional, pois os romanos fizeram das cidades, as sedes do seu governo em todas as províncias do império e da vida urbana o mais rápido processo de aculturação das populações; também a nível urbanístico pois o modelo urbano romano foi também adoptado nas cidades novas, em toda a parte do império e inspirou as reformas e melhoramentos urbanos feitos em muitas outras.

- As cidades do império organizavam-se em torno de dois eixos viários ortogonais - o cardo e o décumano. No cruzamento desses dois eixos rasgavam-se os fóruns, centros administrativos, políticos e religiosos. Junto à periferia das cidades, perto das portas, erguiam-se os complexos termais, os anfiteatros e teatros.

- Como assembleia política, o Senado foi a mais velha instituição do Estado Romano, tendo existido desde a monarquia até finais do Império.

Durante a República (510-27 a.C.), foi o órgão principal da vida política romana. Inicialmente possuía funções meramente consultivas, mas com o passar do tempo começou a dominar todos os assuntos da vida pública com carácter deliberativo e normativo. Cabia-lhe, como funções ordinárias, a política externa, as decisões de guerra e paz, a gestão das festas e solenidades religiosas, a administração das finanças e a tomada de medidas relativas à ordem pública; como funções extraordinárias, podia ainda declarar o estado de sítio, suspender os tribunais, intervir no governo das províncias e na gestão do exército, preparar as leis que os comícios deviam votar, entre outras. Tal amplitude de funções, em conjunto com o prestígio dos senadores fez das reuniões do Senado, na Cúria, o palco quotidiano da vida política do império durante a República, onde a arma principal de convencimento era a palavra, a Retórica, ou arte de bem-falar, importante factor no sucesso dos oradores e na condução das discussões e votações. Com o Império, o Senado entrou em decadência. Augusto reduziu o número de membros e retirou-lhe grande parte dos seus poderes: deixou de comandar o exército e de intervir na política externa.

- Durante o Império, a centralização política usou como principal instrumento de coesão do Estado a Lei Romana (conjunto de normas de Direito, superiormente definidas), que aplicada igualmente em todo o mundo romano, uniformizou os procedimentos da justiça e dos tribunais em todas as províncias, sobrepondo-se à diversidade dos direitos locais. A superioridade das leis romanas residia: na racionalidade e na lucidez dos princípios gerais que enunciavam; no pragmatismo e na experiência que colocam na análise das situações do quotidiano; na complexidade das situações que contemplavam e que eram vividas, a todos os níveis, nas várias regiões do império. A aplicação da justiça e a chefia dos tribunais reflectiram também a estrutura centralizadora dos Estado Imperial. Entregue, durante a República, aos magistrados pretores e aos pretores, a administração da justiça passou para a alçada dos imperadores e seus funcionários, no período do Império. O direito de apelação, reconhecido a todos os cidadãos que recorressem à justiça romana, só podia ser resolvido nos tribunais presididos pelo Senado ou pelo imperador, e a este cabia todos os casos de última instância. Desta forma, o imperador centralizou em si, os poderes legislativo e judicial.

- No século de Augusto, a paz e a prosperidade económica, trazidas pelas conquistas e pelo bom governo, proporcionaram aos Romanos o usufruto do ócio (tempo livre) e alteraram esses velhos costumes. Roma e toda a Itália foram invadidas por povos de todas as partes do império. De todas, as que mais contribuíram para a alteração dos hábitos e costumes foram os gregos. Os Romanos apreciavam-lhes o falar, os conhecimentos, a cultura e muitas outras coisas, e imitaram-nos: a língua grega, falada e escrita, passou a ser utilizada entre as elites cultas; os hábitos de luxo instalaram-se nos lares; o exotismo tomou conta do vestuário e dos penteados; os banquetes e os salões privados eram frequentes e a ida ás termas um hábito indispensável; o interesse pela filosofia, música e pelas artes dominaram os meios intelectuais. Na Roma imperial, como divertimento público, popularizaram-se os jogos que inicialmente foram divertimentos para os deuses oferecidos pelos humanos, e a sua realização obedecia a programas e rituais rigorosamente estipulados. Os mais antigos eram as corridas de cavalos, no Grande Circo Máximo, onde se seleccionava o melhor animal, que no fim era solenemente sacrificado e o sangue derramado para purificar e vivificar o solo. Outras das festividades públicas tradicionais eram as Grandes Procissões, que estão na origem das representações teatrais entre os romanos. A esta tradição associaram a influência do teatro grego, dando origem ao teatro romano, cópia do primeiro. O teatro tinha também representação em festividades privadas, nomeadamente em certas cerimónias fúnebres. Os combates entre feras e, mais tarde, entre homens e feras, também eram muito apreciados. A variedade de jogos criados dependeu muito da imaginação dos magistrados, cuja principal preocupação era agradar o poder e o povo.

 

 

A plebe urbana demonstrou apreciar estes espectáculos violentos e sanguinários, enquanto que as classes superiores preferiam  o refúgio nas villas campestres, rodeados de conforto e bucolismo, onde os prazeres do campo se associavam aos da leitura, da música, da filosofia e das artes, que conheceram o seu primeiro mercado privado entre a elite próspera e sofisticada do império.

 
Publicado Por Cíntia Pontes às 11:35
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