Quinta-feira, 27 de Novembro de 2008

O Estádio e o Teatro Grego

 

O estádio e o teatro eram duas das instituições socioculturais mais importantes da cidade grega, pois neles se celebravam inúmeros e programados concursos e festivais que faziam parte do culto cívico, cultural e religioso.

Os maiores santuários da cidade possuiam na sua área os teatros e estádios, a par de templos, tesouros, oráculos, hipódromos e acomodações para sacerdotes e peregrinos. Em todos eles havia celebrações de festivais que se realizavam na data de aniversário do Deus a que eram destinados, dos quais faziam parte cerimónias religiosas, concursos ginasiais, hípicos e atléticos, concursos líricos e musicais, de tragédia e comédia e, por vezes, também concursos de beleza para homens e mulheres.

 

 

O ESTÁDIO

 

Os estádios eram construções destinadas á prática de jogos. A formação escolar grega incluía aprender a ler, escrever, contar, tocar um instrumento, cantar, recitar, dançar e praticar exercício físico nos ginásios, a fim de se prepararem para a Guerra e também para os jogos.

Nos jogos só podiam participar os cidadãos gregos que fossem membros da boa sociedade e tivessem boa consciência para com os homens e para com os Deuses; por isso os atletas não eram profissionais.

Os melhores recebiam coroas de oliveira ou de loureiro e a admiração e estima dos seus compatriotas, pois conseguiram ultrapassar os seus próprios limites na procura da excelência, atingindo o supremo valor do pensamento grego. Além disso, eram também imortalizados pelos poetas nos seus cantos de vitória e pelos escultores nas suas estátuas.

No séc. IV a.C, por várias razões, as competições desportivas decaíram e os participantes passaram a ser profissionais. Em 393 a.C., o imperador Teodósio proibiu estes jogos, considerando-os pagãos.

 

Estádio de Epidauro, sécs. V e IV a.C.

 

 Estádio de Delfos, séc. V a.C.

 

 Ruínas do Estádio de Olímpia

 

 Estádio de Priene, período helenístico

 

 

O TEATRO

 

O teatro (theatron - local onde se vai para ver) nasceu no séc. VII e revestiu-se de grande importância entre os gregos, por diversas razões. Pensa-se que está relacionado ao culto do Deus Dionísio (Deus do Vinho).

Pisístrato e Péricles foram os dois grandes impulsionadores do teatro em Atenas. O primeiro organizou os primeiros concursos dramáticos em 534 a.C., e o segundo foi o grande defensor do teatro, nomeadamente com o theórikon (Péricles oferecia bilhetes aos mais pobres, para que estes também podessem assistir ao espectáculo).

O teatro tinha uma função cultural e de formação cívica e religiosa dos espectadores, levando-os a pensar e a reflectirem sobre o sentido da existência humana, o destino do Homem, o poder dos Deuses e a vingança destes sobre quem os desafiasse. Era também através do teatro que se ensinavam as virtudes aos cidadãos (ética, moderação, humanismo, pacifismo, sabedoria, coragem, entre outras), levando-os também a reflectir sobre os vícios dos homens (adultério, ambição, maldade, desrespeito pelas leis e pela religião, entre outros).

Os concursos estavam a cargo de um grupo de altos magistrados e cidadãos ricos (coregia), que escolhia as peças, nomeava os actores e financiavam o espectáculo.

Os actores ou hipócritas eram sempre homens e interpretavam na mesma peça vários papéis, inclusivé papéis femininos, por isso usavam uma grende variedade de trajes e também máscaras que os ajudavam a caracterizar a personagem.

Existia também o coro, que dançava e cantava ao som do oboé, pois poesia, dança e música estão sempre interligados.

As representações duravam quatro dias seguidos, sem entreactos ou intervalos; tinham sempre uma assistência muito concorrida, atenta, divertida e participativa.

Os primeiros teatros eram construções bastante simples: a orquestra ficava no ponto mais baixo, em terra batida; as bancadas eram em madeira ou cávea e estavam dispostas em semicírculo nas vertentes naturais; e o palco ou cena era uma espécie de estrado com uma tenda que servia de cenário e camarim para os actores. Os teatros em pedra surgiram apenas do final do séc. V a.C., nas cidades e nos santuários, construídos no declive das colinas, pois a depressão geográfica criava boas condições acústicas e propiciava a visão total do espaço, e virados para o mar ou para a montanha, pois a paisagem natural integrava o cenário.


 

A tragédia é o género mais antigo e atingiu o seu apogeu no tempo de Péricles pois este considerava o teatro uma verdadeira instituição pública com fins cívicos e religiosos, para além de promover também a cultura dos cidadãos atenienses. A tragédia era escrita em verso e o seu conteúdo estava quase sempre ligado ás antigas histórias religiosas, representando a vida dos deuses e a loucura e insensatez do Homem, numa luta constante entre as forças humanas e as forças divinas e do destino que, devido ao fatalismo e à maldição, se impõe.

O enredo, descrito em tensão crescente, prende o espectador que vai pressentindo a iminência da catástrofe.

Dentro deste género os principais representantes são:

Ésquilo (525-456 a.C.), conhecido como o verdadeiro criador da tragédia grega;  as suas peças mais conhecidas são: "Os Persas" e "Prometeu Acorrentado";

 

Sófocles (495-405 a.C.), o autor mais premiado. As suas obras mais conhecidas foram: "Ajax", "O Rei Édipo" e Antígona", onde descreve o homem comum, com carácter e sentimentos, numa construção perfeita e de grande sentido dramático, onde o suspense está sempre presente;

 

Eurípedes (485-406 a.C.), que em obras como "Medeia" e "Electra", realçou o papel da mulher, questionou a religião e a tradição, incentivando e provocando no espectador a admiração e o respeito pelo cidadão e pelo camponês humilde e digno, que, numa atitude revolucionária, lutam contra o destino e contra os ricos, pela defesa da igualdade política e pela justiça social.

 

Outro género do teatro foi a comédia, mais tardia e menos duradoura que a tragédia. O seu conteúdo estava principalmente ligado aos assuntos do quotidiano e da vida terrena, ridicularizando com um grande espírito crítico e liberdade os vícios, hábitos, modas e atitudes dos políticos, filósofos, escritores e até dos deuses.

 

Neste género o seu principal representante foi:

Aristófanes (445-385 a.C.), conhecido pela sua fecunda inspiração, virtuosismo verbal, liberdade de linguagem, veia cómica e impiedosa sátira e por questionar a actualidade política e social e elogiar a excelência dos costumes antigos; as suas principais obras são: "A Rã", "As Moscas na Figueira", "A Assembleia de Mulheres" e "Os Cavaleiros".

 

 


Teatro de Dionísio

 

Teatro de Mileto

 

Teatro de Pérgamo

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 03:04
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Terça-feira, 11 de Novembro de 2008

A Arte da Antiguidade Clássica - Arte Grega (Continuação)

 

CERÂMICA E PINTURA

 

- De entre o artesanato artístico deixado pelos Gregos, a cerâmica é a que tem um maior destaque, pois era uma mercadoria de primeira necessidade pelas múltiplas funções que possuía (serviço doméstico, usos artesanais e comerciais, apoio às cerimónias religiosas e fúnebres). O seu estudo é, entre o de todas as outras artes gregas (arquitectura e escultura), aquele que melhor documenta a evolução da plástica grega e também a evolução social, cultural e política da História da Grécia.

 

- Evoluiu em cinco estilos principais:

» Estilo Proto-Geométrico (séc. XI a X a.C.), Idade das Trevas - Neste primeiro estilo predominam os motivos naturalistas e a influência creto-micénica. Vão-se introduzindo formas geométricas básicas tais como os losangos, os círculos, as linhas rectas e onduladas, entre outras;

» Estilo geométrico (sécs. IX e VIII a.C.) - Este estilo tinha como principal característica o uso de motivos geométricos numa decoração simples e sóbria, motivos esses que eram dispostos á volta do corpo dos vasos, compondo bandas ou frisos; as bandas eram decoradas com motivos organizados em combinações e variações criativas tais como meandros, gregas, triângulos, losangos, linhas quebradas ou contínuas, axadrezados, entre outros, que eram realçados a preto sobre o fundo de cor natural do vaso. Este estilo sofre, no séc. VIII, alterações como a introdução de elementos figurativos (animais e/ou figuras humanas) na decoração, que compunham cenas descritivas e narrativas, como batalhas ou cerimónias fúnebre e que eram apresentandos como meras silhuetas a negro, muito esquematizadas e estilizadas, de onde se excluíram todos os outros pormenores secundários; surgiu ainda a tendência para o aumento progressivo do tamanho das peças, que se destinavam a ser colocadas nos cemitérios como indicadores das sepulturas, á semelhança de estelas ou monumentos funerários. No final deste século o estilo geométrico entra em fase de desintegração.

 

 

 

 

» Estilo arcaico (final do séc. VIII ao séc. V a.C.) - Subdividiu-se em duas fases evolutivas:

- Fase orientalizante (até aproximadamente 650 a.C.), que é profundamente marcada por influências orientais. Os temas caracterizam-se pelo regresso ao figurativo (necessidade de narrar e representar) e pelo aparecimento das cenas de carácter mitológico. A figuração define-se pela representação de animais míticos ou lendários e de figuras híbridas como grifos (animais mitológicos, misto de leão e águia), esfinges (figura mitológica com cabeça de mulher, corpo de leão, cauda de serpente e asas de águia) e górgonas (figura mitológica, mulher com a cabeça armada de serpentes, o mesmo que Medusa); e pela representação de elementos vegetais e naturalistas, como lótus e palmetas; é dada preferência ás figuras de grande tamanho, tratadas ainda em silhueta estilizada, mas incluindo a técnica da incisão, pequenos traços realçados a branco ou vermelho que compunham pormenores anatómicos ou de vestuário;

 


 

- Fase arcaica (finais do séc. VII até cerca de 480 a.C.) - Fase marcada pelo aparecimento da cerâmica decorada com a técnica das figuras pintadas a negro. Sobre o fundo vermelho do barro destacam-se os elementos figurativos, representados como silhuetas estilizadas á maneira antiga (lei da frontalidade - rosto e pernas de perfil, olho e tronco de frente e ancas a três quartos) e a técnica da incisão continua em uso, permitindo pormenorizar o interior das figuras, agora enriquecidas com linhas de contorno dos músculos e outros pormenores como a barba, o cabelo e até o padrão do vestuário. Com todas estas preocupações e inovações, torna-se notório o maior rigor aplicado ás figuras, que lhes imprime um grande realismo e expressividade. Para além dos relatos mitológicos passam a ser representadas cenas da vida familiar e do quotidiano;

  


 


 

 

« Estilo clássico (sécs. V e IV a.C.) - Este estilo corresponde ao período do apogeu técnico, estético e conceptual do povo grego, no qual a arte foi encarada como uma consequência directa da superioridade criativa, racional e filosófica da cultura grega. O desenho e a pintura tiveram um enorme desenvolvimento através da descoberta, aperfeiçoamento e aplicação de revolucionárias inovações técnicas e formais tais como a criação dos cânones escultóricos, a perspectiva, as sombras e os claro-escuro e a posição em escorço. É implantada a técnica das figuras vermelhas sobre o fundo negro (mantendo-se, contudo, o fabrico da cerâmica das figuras negras), que confere á pintura uma maior perspectiva, dinamismo, realismo, naturalismo e expressividade. Nesta técnica, toda a superfície do vaso era coberta verniz negro, á excepção das figuras, que mantinham a cor avermelhada natural; os pormenores anatómicos e outros eram acrescentados com um pincel mergulhado em tinta preta. 

 


 

 

 

 

Durante este período verificou-se uma enorme liberdade criativa entre os modeladores e decoradores das peças cerâmicas: alguns autores misturaram figuras vermelhas e negras com fundos amarelados ou brancos, figuras negras com brancas, entre outras; nas oficinas da Ática desenvolveu-se uma cerâmica funerária com fundo branco, cujas figuras se definiam exclusivamente pela linha de contorno, traçada com precisão e onde a decoração primava pela austeridade (estilo belo); noutras escolas incorporaram-se figuras modeladas em relevo, colocadas sobre as partes mais largas dos vasos; surgiram também novas colorações, que em alguns casos, chegaram até á policromia.

 

  

 

 

Na época helenística (Estilo helenístico - séc. III ao ínicio da Era Cristã), por várias razões, a cerâmica grega perdeu o seu prestígio, qualidade artística e encanto, acabando por se banalizar.

 

- No que diz respeito á pintura grega, é á cerâmica que se vão colher todas as informações necessárias para compreender a sua evolução e ainda para o entendimento da cultura, da civilização e da plástica gregas, devido ao facto de quase toda a grande pintura mural ter desaparecido.

 

Pintura funerária a fresco

 

Publicado Por Cíntia Pontes às 22:32
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